Dicas para educar crianças na era digital

 



A parentalidade é, para muitos de nós, uma montanha-russa de emoções e decisões, muitas vezes sem um manual claro. Como Jacqueline Nesi, psicóloga e professora na Brown University, frequentemente aponta em sua newsletter Technosapiens, a ciência pode oferecer um farol em meio ao ruído, mas raramente nos dá respostas simples para as complexidades da vida familiar.

A Navegação da Infância e Adolescência: Um Olhar Científico

Nesi nos lembra que a adolescência, aproximadamente entre os 10 e 20 anos, é um período de "montanha-russa" de rápidas mudanças sociais e emocionais, mas também uma fase única de crescimento e desenvolvimento. Para ajudar os adolescentes a prosperar, a ciência aponta para seis necessidades fundamentais:
   Exploração e Assunção de Riscos: Os cérebros adolescentes são programados para a emoção dos riscos, o que pode ser direcionado para atividades saudáveis como esportes, aulas desafiadoras ou ativismo.
   Significado e Propósito através da Contribuição: À medida que os adolescentes desenvolvem empatia, eles se tornam mais capazes de ajudar os outros, encontrando significado em contribuições para amigos, família e comunidade.
   Tomada de Decisão e Regulação Emocional: As emoções dos adolescentes são intensas, e aprender a reconhecê-las e gerenciá-las é crucial para a saúde emocional e para tomar decisões inteligentes. Os adultos podem modelar e ensinar habilidades de enfrentamento saudáveis.
   Apoio dos Pais e Outros Adultos Carinhosos: Mesmo que pareçam independentes, os adolescentes precisam do apoio de pais, mentores e outros adultos. Nesi cita seu próprio exemplo, sugerindo que um bom relacionamento pode levar a filhos adultos que moram perto e "se convidam" para visitas.
   Desenvolvimento de Valores, Metas e Identidade: Os adolescentes estão descobrindo quem querem ser, influenciados por colegas, família e mídia. Os pais devem dar liberdade para experimentação, apoiar a exploração de interesses e identidades, e fornecer acesso a mensagens positivas.
   Respeito e Status Social: O cérebro adolescente é altamente sintonizado com o status social. Os adolescentes precisam de opções saudáveis para ganhar respeito em suas comunidades e ser tratados como indivíduos competentes cujas opiniões são valorizadas.

Para crianças mais novas, os desafios mudam, mas a necessidade de uma abordagem informada permanece. A disciplina, para Nesi, não é punição, mas um sistema abrangente para ensinar comportamento aceitável através de calor, estrutura e consequências apropriadas. O "calor" significa demonstrar carinho e apoio, enquanto a "estrutura" envolve limites, regras e expectativas claras. As "consequências" são as respostas aos comportamentos, baseadas na teoria do Condicionamento Operante de B.F. Skinner: comportamentos seguidos por consequências "boas" são mais propensos a se repetir, e os seguidos por consequências "ruins" são menos propensos. A atenção dos pais, mesmo em forma de repreensão, pode ser um reforço positivo para crianças pequenas.

As questões do sono são um campo fértil para aplicar esses princípios. Nesi destaca que o "choro controlado" (extinção não modificada) ou abordagens mais graduais podem ensinar as crianças a adormecerem independentemente, apesar de serem "muito difíceis" para os pais. A consistência é fundamental, e os pais devem esperar um "surto de extinção" – o comportamento indesejado piora antes de melhorar.

Para a construção de relacionamentos positivos entre irmãos, Nesi, que vem de uma família de seis irmãos que "se dão muito bem", sugere encorajar a diversão conjunta, ajudar as crianças a considerar o ponto de vista do irmão (o que é crucial para a empatia), auxiliá-las na regulação emocional e gerenciamento de conflitos. Ela enfatiza a importância de modelar o comportamento desejado e ter uma política de "tolerância zero para a maldade entre irmãos".

A Era Digital e Seu Impacto: Desmistificando e Orientando

A complexidade da parentalidade moderna é amplificada pela tecnologia. A questão de saber se a mídia social causou a crise de saúde mental dos adolescentes é complexa, e Nesi acredita que, embora "muito provavelmente" tenha contribuído, existem "múltiplas causas". Ela expressa preocupação de que focar apenas na mídia social como a única causa pode nos fazer ignorar outros fatores cruciais para a saúde mental dos adolescentes.

Sobre videogames, Nesi, em seu guia Technosapiens, desmistifica a ideia de que são inerentemente prejudiciais. Embora o tempo de tela possa substituir atividades importantes como o sono e o dever de casa, há evidências de benefícios cognitivos (como melhoria da memória de trabalho e atenção) e sociais (como um importante meio de conexão com amigos, especialmente para meninos). Para a maioria das crianças, jogar videogames com moderação não é problemático, mas uma pequena porcentagem pode desenvolver um "transtorno de jogo" problemático.

A discussão sobre "vício em tela" e o papel da dopamina é outro ponto que Nesi aborda. Ela ressalta que a dopamina é um neurotransmissor essencial envolvido em muitas funções corporais, incluindo a motivação, e não é simplesmente o "químico do bem-estar". Embora a dopamina esteja envolvida no uso de telas, como em qualquer atividade prazerosa, Nesi adverte contra a ideia de que "o sistema de dopamina das crianças responde às telas da mesma forma que responderia às drogas". A concepção de "vício em mídia social" é debatida na literatura, e Nesi pede cautela na rotulagem, pois é fácil mostrar que um comportamento é "patológico" com suposições pré-existentes.

Em relação ao tempo de tela para crianças pequenas, Nesi observa que as diretrizes (como 1 hora por dia para crianças de 2 a 5 anos) são "arbitrárias". Mais importante do que a quantidade exata de tempo é o que as crianças fazem durante as 24 horas do dia: se elas comem, dormem, se exercitam, brincam e interagem com outras pessoas. Para crianças com menos de 3 anos, o aprendizado com telas é limitado ("déficit de vídeo"), mas o coviewing (assistir junto com os pais) pode ajudar. Para evitar "birras pós-tela", Nesi recomenda experimentar diferentes tipos de mídia, escolher pontos de parada intencionais, conversar com as crianças, fazer um plano, considerar o momento e as atividades pós-tela, ser consistente e desligar o autoplay.

A questão das proibições de celulares nas escolas é complexa, mas Nesi conclui que limitar o uso de celulares durante o dia escolar "faz sentido", pois os smartphones podem distrair do trabalho acadêmico e interromper as interações sociais presenciais. No entanto, ela adverte que as proibições de celulares não são uma panaceia e não resolverão a crise de saúde mental dos adolescentes por si só.

A Essência da Parentalidade Baseada em Evidências

No centro da filosofia de Nesi está a ideia de parentalidade autoritativa: um equilíbrio entre calor (amor e carinho) e estrutura (regras e limites). Essa abordagem tem sido consistentemente associada a melhores resultados para as crianças. Ela usa a analogia do "banquinho de três pernas" para explicar a parentalidade baseada em evidências: ela combina a melhor evidência de pesquisa disponível, a experiência e expertise do pai (ou médico, no contexto original), e as características, valores e circunstâncias do paciente/filho. A pesquisa oferece uma direção, mas a aplicação prática requer flexibilidade e conhecimento do seu próprio filho.

Nesi também oferece estratégias para lidar com os problemas diários da parentalidade, como o "4 Ways to Solve a Problem" da Terapia Comportamental Dialética (DBT): resolver o problema, mudar como você se sente sobre o problema, aceitar radicalmente o problema, ou permanecer miserável (e/ou piorar a situação). Ela enfatiza que "aceitação radical" não significa concordar com o problema, mas sim aceitar as coisas que não podemos mudar. Para pensamentos intrusivos, Nesi, que os experimentou no pós-parto, explica que são comuns e geralmente não significam que algo está "errado". A melhor estratégia é "fazer nada" e não tentar suprimi-los, pois isso os torna mais persistentes, um fenômeno conhecido como o "problema do urso branco".

Em última análise, a Jacqueline Nesi nos convida a abraçar a complexidade e a incerteza da parentalidade. Não há uma "resposta única e certa" para muitas questões, mas armados com informações baseadas em evidências, uma dose de intuição parental e a capacidade de se adaptar, podemos nos esforçar para fazer o melhor que podemos, um dia de cada vez.