Uma Análise da Condição Humana na Era da Engenharia Social: Despertando do "Zumbi Filosófico"
O podcast "LIN Podcast 162", com a PhD da Unicamp Maria Pereda, oferece uma profunda reflexão sobre a condição humana contemporânea, questionando a forma como percebemos a realidade e nossa própria existência. O cerne da discussão gira em torno do conceito de "zumbi filosófico" e como ele se manifesta em uma sociedade cada vez mais moldada por narrativas e engenharia social.
O Conceito de Zumbi Filosófico e a Perda do Diálogo Interno
A Dra. Maria Pereda introduz o termo "zumbi filosófico", cunhado pelo renomado filósofo da mente David Chalmers. Este conceito descreve a maioria das pessoas – Pereda sugere 95% da população – que não possui um diálogo interno significativo. Tais indivíduos não questionam, não se aprofundam em suas próprias mentes e, consequentemente, apenas repetem as narrativas que lhes são impostas pelo mundo exterior.
Essas narrativas são criadas pela mídia, pelo ambiente social e até mesmo pela família, programando o indivíduo desde o nascimento. O resultado é uma mente que acredita pensar por si mesma, mas que, na verdade, apenas reproduz o que o "espírito da época" (Zeitgeist) implantou, um espírito formado por grupos de poder com interesses específicos. Essas pessoas são facilmente conduzidas, aderindo a religiões ou políticos de "salvação" e defendendo sistemas que lhes são confortáveis, muitas vezes gerando dor para justificar soluções pré-determinadas – um processo descrito como "problema-reação-solução". A Dra. Pereda enfatiza que 100% do que acontece no mundo é feito de propósito e é resultado de engenharia e grupos de poder, sem conflitos genuínos entre as elites desde a Segunda Guerra Mundial.
A incapacidade de questionar – "Por que isso está acontecendo? Quem ganha com isso?" – é a marca do zumbi filosófico. Eles não têm conteúdo próprio e se perdem quando pressionados em questões filosóficas, como "Quem sou eu?". A era da informação, paradoxalmente, vê pessoas "engolindo ruído" (ruído branco e ruído sujo) em vez de se informarem, um fenômeno exacerbado por vídeos curtos e o "scrolling" nas redes sociais. Isso danifica o cérebro, reduzindo a memória de longo prazo e gerando estresse e ansiedade, limitando a capacidade de enxergar padrões e questionar o condicionamento.
Controle, Manipulação e a "Tela Azul"
A Dra. Pereda explica que o zumbi filosófico é "programado pelo padrão", aceitando narrativas rasas como realidade. Eles têm dificuldade em flexibilizar definições, buscando respostas simples e reducionistas (A=B=C=D). A incapacidade de lidar com a complexidade e a necessidade de que tudo "dependa" de múltiplos fatores irrita o zumbi filosófico, que busca uma "fórmula mágica" ou uma resposta que confirme suas crenças existentes.
A intenção por trás de manter as massas nesse estado de "sonho" é o controle por parte de grupos de poder. A história é replete de exemplos de impérios que criaram narrativas para manipular o povo, como as guerras religiosas que, na verdade, ocultavam conflitos entre impérios. A informação é reduzida a uma "única verdade", suprimindo o questionamento interno e a capacidade de atingir a consciência, colocando as pessoas na "filosofia das massas".
A manipulação da informação não é apenas histórica; ela ocorre no presente, alterando até mesmo a "linha do tempo" percebida pela humanidade. A Dra. Pereda menciona o efeito Mandela como um exemplo de como novas informações podem ser introduzidas para quebrar a sequência temporal e criar memórias coletivas que nunca existiram, facilitado pelo meio digital.
Transhumanismo e a Digitalização da Vida
A manipulação visa a um controle total, onde o transhumanismo desempenha um papel crucial. O objetivo é digitalizar o homem, transformando-o em um "token" e coibindo a singularidade do ser. A busca pela individualidade e autodescoberta é suprimida, levando ao "simulacro" – a cópia de algo que não se é, resultando em perda de identidade e infelicidade. Exemplos como pessoas que se identificam como animais ou bebês reborn são citados como simulacros de engenharia social.
A tecnocracia, um sistema de governança digital e controle total, é o estágio atual da evolução política. Moedas digitais, como as stablecoins, são vistas como ferramentas para concentrar o poder financeiro nas mãos de grandes empresas (como a Black Rock), que podem bloquear o dinheiro dos usuários com mais facilidade do que governos.
A promessa de longevidade do transhumanismo é uma "duplo pensar". Enquanto se oferece viver para sempre, a realidade é a "morbidade expandida" (pessoas vivendo mais, mas muito doentes) e a "morbidade comprimida" (crianças com doenças de idosos). Tudo isso serve para que as pessoas aceitem as alterações no corpo e na mente, preparando o caminho para um futuro onde o cérebro humano será danificado e a inteligência artificial (IA) assumirá o controle.
A Dra. Pereda afirma que já somos governados por um sistema "Skynet" (referência ao Exterminador do Futuro), que só aumentará sua proporção. Ferramentas como a Palantir, que controla dados de informação globalmente, são a base desse sistema de controle. A robotização e a substituição do homem pela IA levarão à perda de empregos e à criação de "zonas de inúteis", conforme retratado no filme Elysium, com a redução populacional como um objetivo subjacente.
A Libertação do Indivíduo: Consciência, Sapiência e Senciência
Diante desse cenário, a questão "qual é a saída?" é inevitável. A resposta de Maria Pereda é clara: "Acorda, Zé, acorda, desperta!". Não se trata de uma mudança da massa, mas de uma transformação individual. A Dra. Pereda argumenta que os próprios "donos do mundo" são como NPCs (personagens não-jogáveis) em um videogame, buscando apenas poder e dinheiro, e que o verdadeiro "jogador" (o indivíduo consciente) deve dominar o jogo.
A chave para não ser um zumbi é atingir ganho consciencial e cognitivo. Isso não se ganha com meditação superficial ou dancinhas, mas com informação processada e ganho de potência cerebral. Nosso cérebro, naturalmente uma "máquina do tempo" capaz de processar múltiplas linhas de tempo potenciais, está perdendo essa capacidade enquanto os computadores a ganham.
O caminho para a libertação envolve três estágios, inspirados em Matrix:
1. Conhecimento: Compreender o sistema e a verdade por trás das narrativas.
2. Sapiência: Renascer e começar a "ler a Matrix", ou seja, aplicar o conhecimento.
3. Senciência: Um estado superior onde se desdobram novos sentidos e a pessoa "vê mais do mesmo" – percebe aspectos ocultos da realidade e pode controlar o sistema. A senciência significa que, embora o universo pareça externo, ele é processado internamente, e o indivíduo pode alterar sua própria realidade ao mudar a informação que processa.
A Dra. Pereda conclui que a complexidade é fundamental para gerar a singularidade. Não se trata de uma complexidade caótica, mas harmônica, que integra informações coerentes. A inteligência artificial, ao criar "emergências" e novos níveis de inteligência, exemplifica esse salto de complexidade. Assim como Neo em Matrix, o indivíduo deve conhecer o programa, ler o sistema e, finalmente, dominar as "máquinas", reconhecendo que o "Salvador" não virá de fora, mas que cada um deve ser seu próprio salvador.
Em última análise, o artigo convida à auto-descoberta e ao desenvolvimento da singularidade como a única forma de ser real e verdadeiro em um mundo que se torna cada vez mais uma simulação. Não se pode mudar a fase do jogo para a coletividade, mas o indivíduo consciente pode mudar seu próprio "espectro de realidade" e, assim, construir um futuro diferente do que a massa é levada a aceitar. O chamado é para questionar, buscar informação e se tornar complexo e harmonioso, em vez de um "zumbi filosófico" submetido ao caos da engenharia social.