Desvendando o Dinheiro e as Empresas

 



I. Introdução ao Desvendando Ações e Seus Fundamentos
O evento "Desvendando Ações" é um curso intensivo de três aulas, ministrado por Leandro Sequeira, economista pela UFRJ e fundador da VAROS (empresa de análise de ações com mais de 12.000 clientes). O objetivo é compartilhar, em um curto período, técnicas de investimento em ações que Sequeira levou mais de 10 anos para dominar e que são utilizadas por "bancos de investimentos, gestores de ações e investidores lendários como Warren Buffett, Howard Marx e Monis Praby que juntos detém mais de 1 trilhão de dólares".

Principais Aprendizados do Evento:

Funcionamento de dinheiro, bancos, economia e bolsa de valores: Entendimento dos pilares do sistema financeiro.
Contabilidade para análise de empresas: Aprender a ler balanços patrimoniais e usar dados contábeis.
Criação do primeiro modelo de Valuation: Capacidade de determinar se uma ação está cara ou barata e se vale a pena investir.
O curso é direcionado para iniciantes, "do zero", exigindo apenas "foco e comprometimento". A aplicação dessas técnicas pode gerar "ganhos de verdade", como a rentabilidade de mais de 40% obtida pela VAROS desde julho de 2023, quase o triplo do mercado brasileiro, mesmo "em meio a uma crise econômica taxas de juros altíssimos". Além do investimento, as habilidades de contabilidade, valuation e análise de ações são "as mais requisitadas para quem quer trabalhar no mercado financeiro", com salários entre os maiores do país.

Ao final do evento, será aberta uma nova turma para o curso "Valuation Zero Avançado", com 50 vagas, que abrange desde matemática financeira até análise setorial, com casos reais e mais de 100 aulas.

II. O Egoísmo Humano e a Cooperação no Capitalismo
A aula inicial propõe entender o funcionamento do dinheiro, da economia e das ações, começando pela natureza humana.

A Perspectiva de Adam Smith sobre o Egoísmo:

O economista Adam Smith, em seu livro de 1776, argumenta que a cooperação humana não nasce da bondade, mas do "amor próprio" e do interesse individual:

"Um homem necessita sempre da ajuda do seu semelhante e não pode esperar que estes lhe deem essa ajuda por mera bondade será mais fácil consegui-la se ele puder explorar a seu favor o amor próprio dos outros em demonstrar que eles têm alguma vantagem em fazer por ele aquilo que é pedido."

Smith exemplifica que serviços como o fornecimento de alimentos pelo cervejeiro ou padeiro são movidos pelo "seu próprio interesse", não por "generosidade". O dinheiro, nesse contexto, é "só uma maneira de convencer estranhos a prestarem favores a outros estranhos", pois sabem que "vão ganhar dinheiro e com esse dinheiro eles vão poder comprar ajuda de outros estranhos". A conclusão é que "as pessoas são egoístas e por incrível que pareça o mundo funciona muito bem assim".

A Base Biológica do Egoísmo: Richard Dawkins e a Seleção Natural:

A teoria de Charles Darwin da seleção natural é reinterpretada, destacando que o essencial para a sobrevivência não é apenas viver, mas "passar os seus genes adiante". Richard Dawkins, em seu livro "O Gene Egoísta", complementa essa ideia, afirmando que "todos nós somos grandes egoístas não porque a gente quer mas porque os nossos genes nos obrigam a agir assim". Isso explicaria o egoísmo proposto por Adam Smith, atribuindo-o à natureza.

Altruísmo Recíproco e a Teoria dos Jogos:

No entanto, a descoberta do "altruísmo recíproco" em morcegos desafiou essa visão. Morcegos-mães alimentam não apenas seus próprios filhotes, mas também os de outras mães no ninho. Essa aparente contradição é explicada pela Teoria dos Jogos. Animais tomam decisões baseadas não apenas no que pensam, mas também nas "decisões que os outros animais estão pensando em tomar".

Um exemplo com bactérias demonstra que, em escassez de alimento, elas cooperam em vez de se matarem, pois percebem que matar a outra as deixaria "indefesas e seria morta pela bactéria que sobrou" (impasse mexicano). No caso dos morcegos, a cooperação garante que seus próprios filhotes serão alimentados em um dia futuro se eles ajudarem os outros hoje. A regra é clara: "eu te presto um favor contanto que você me retribua um favor equivalente no entanto se você trapassear eu não presto mais favor algum a você".

Cooperação em Larga Escala e o Capitalismo:

Conclui-se que o "egoísmo é inato", mas a "forma mais inteligente de ser egoísta é através da cooperação". Os humanos se destacam pela "escala em que a gente conseguiu elevar a nossa cooperação", construindo "coisas incríveis, navegar oceanos e até mesmo descobrir outros planetas". O capitalismo é apresentado como "uma máquina de transformar egoísmo em cooperação" impulsionada pela "troca".

III. A Evolução do Dinheiro e os Bancos
A troca direta ("escambo") torna-se impraticável em larga escala, pois exige uma dupla coincidência de vontades (encontrar alguém que tenha o que você precisa e que queira o que você oferece). O dinheiro surge para resolver esse problema, sendo "uma moeda que todo mundo quer e é aceita em troca de praticamente qualquer favor".

Formatos Históricos do Dinheiro:

Sal: Civilização Maia (há 2000 anos) e Império Romano o utilizavam. A palavra "salário" deriva de "pagamento em sal". O sal era valorizado pela sua capacidade de conservar alimentos, tornando-o universalmente desejado antes da refrigeração. No entanto, sua abundância e fácil extração levaram à perda de valor.
Ouro e Prata: Tornaram-se consenso por três motivos principais:
Escassez: Não são tão abundantes quanto o sal.
Divisibilidade: Podem ser derretidos e divididos em partes menores.
Armazenamento: Relativamente fácil de guardar.
Os Primeiros Desafios e o Surgimento dos Precursores dos Bancos:

Transporte e Divisão: Carregar barras de ouro era impraticável, levando ao surgimento das "casas de cunhagem" que transformavam ouro pesado em moedas.
Falsificação: A adulteração das moedas com metais menos nobres era um problema recorrente. Governos assumiram a cunhagem para garantir a qualidade, também porque "essas moedas eram usadas para pagar os impostos".
Roubos: Andar com grandes quantidades de ouro e prata era perigoso. A Ordem dos Templários, no século XI, para proteger peregrinos a Jerusalém, começou a guardar o dinheiro na Europa e emitir recibos para retirada em Jerusalém. Essa prática evoluiu, e os Templários "acabaram se tornando os precursores do que hoje a gente conhece como bancos".
O Banco de Amsterdã e o Dinheiro de Banco:

No século XVII, Amsterdã era o principal centro de negócios. A diversidade de 14 moedas diferentes gerava complexidade. O Banco de Amsterdã foi criado para converter essas moedas em ouro e prata. Em 1683, o banco começou a emitir recibos para os depósitos, permitindo que as pessoas usassem os "recibos" em vez das moedas físicas. Esses recibos, chamados "dinheiro de banco", tinham validade de 6 meses.

O Padrão Ouro e Sua Queda:

A principal característica do dinheiro de banco era seu "lastro": "você podia ir ao banco a qualquer momento e trocar eles por ouro prata". Adam Smith elogiou a solidez desse sistema: "por cada florim que circula como bilhete de banco existe no tesouro do banco um florim correspondente em ouro ou prata". Esse sistema foi conhecido como "padrão ouro".

O padrão ouro funcionou até 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial. Para financiar os enormes gastos da guerra, o Reino Unido precisou de muito dinheiro emprestado. Em 1914, o Reino Unido "decidiu abandonar o padrão ouro", o que permitiu "imprimir todo o dinheiro que ele quisesse". O resultado foi o disparo da quantidade de dinheiro na economia e, consequentemente, a "inflação", com "o preço de todos os produtos decolasse jogando a nação num cenário completamente catastrófico".

Após a guerra, muitos países tentaram retomar o padrão ouro, mas o "estrago já estava feito". Em 1971, os Estados Unidos também abandonaram o padrão ouro. Desde então, o dinheiro passou a ser a "moeda fiduciária", "um pedaço de papel que só tem valor porque as pessoas acreditam que ele tem valor".

Apesar dos problemas, o dinheiro ainda "induz pessoas que nunca se viram antes e que são egoístas por natureza a cooperarem entre si".

IV. A Empresa: Estrutura Essencial do Capitalismo
Além do dinheiro, a "empresa" é uma figura "essencial para que a humanidade conseguisse cooperar em larga escala e conquistar feitos nunca antes imaginados".

O Conflito de Agência:

Michael Jenson, conhecido pelo "Alfa de Jenson", também cunhou o termo "conflito de agência". Ele ocorre "toda vez que uma pessoa decide tirar proveito de uma situação em vez de cooperar como tinha sido combinado", impulsionada pelos "genes egoístas". Os chineses, há 3.200 anos, já abordavam esse problema no livro "Z".

Uma forma de mitigar o conflito de agência são os "contratos", que registram as responsabilidades e punições, reduzindo o incentivo ao egoísmo. No entanto, "contratos são caros".

Por Que as Empresas Existem? A Teoria de Ronald Coase:

Em 1937, Ronald Coase propôs que as empresas existem para reduzir os "custos de transação". Se as pessoas cooperassem como freelancers, haveria "um custo extra para garantir que essa cooperação de fato aconteça". Isso inclui:

Custo de Redação de Contratos: Novo contrato para cada serviço.
Custo de Busca: Procurar novos prestadores de serviço.
Desincentivo ao Esforço: Freelancers podem ter menos estímulo a se esforçar em projetos de curto prazo.
Quando "o custo de redigir todos esses contratos for superior ao custo de contratar as pessoas para trabalhar para você por um tempo indeterminado", então "vai valer a pena criar uma empresa". A empresa é uma "entidade fictícia que reúne as pessoas em prol de um projeto para trabalhar nele sem um prazo pré-estipulado". Ela é a "estrutura mais importante do capitalismo".

V. Investindo em Ações: O Caminho para o Lucro
As empresas são valorizadas não apenas por suas realizações, mas porque "dá para ganhar muito dinheiro com elas".

Ações como Partes de uma Empresa:

"Ações são pedaços de uma empresa que te dão direito a receber parte do lucro que vai ser gerado por ela". Elas podem ser compradas na bolsa de valores ou fora dela.

A Importância do Valuation:

No entanto, é crucial saber o valor intrínseco de uma ação: "se você investir nelas sem saber quanto elas valem você vai acabar perdendo dinheiro". Comparar isso a "comprar um produto sem ter a mínima ideia de qual é o preço dele". A única forma de evitar perdas é "dominando a arte de descobrir quanto vale uma ação", que é chamada de "valuation".

A terceira aula do "Desvendando Ações" focará em como usar o valuation e criar um modelo prático para ações negociadas no Brasil, permitindo "descobrir se ela tá cara se ela tá barata e se vale a pena ou não investir nela".

Próximo Passo: A Linguagem dos Negócios:

Antes de aprofundar no valuation, a próxima aula abordará a "barreira da linguagem", ensinando "a se comunicar no que Warren Buffett a linguagem dos negócios", ou seja, a contabilidade.

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