A história da Monark, uma marca que já foi sinônimo de bicicleta no Brasil, oferece um fascinante estudo de caso sobre o ciclo de ascensão, desafio e adaptação de uma empresa. Dominando o mercado nacional entre as décadas de 60 e 90, a Monark, com modelos icônicos como a Monareta, a Barra Circular e a clássica BMX, vendeu mais de 2 milhões de unidades por ano em seu auge, marcando a infância e a juventude de milhões de brasileiros. Mas como essa gigante, que hoje possui uma produção muito menor e quase nenhuma relevância no mercado atual de bicicletas, ainda consegue lucrar R$ 15 milhões de reais no último ano? A trajetória da Monark é uma rica tapeçaria de garra, crises e superação que convida à reflexão.
A verdadeira origem da Monark remonta a 1908, na cidade de Varberg, Suécia, onde Birger Svensson, aos 25 anos, fundou uma pequena loja de montagem e vendas de bicicletas. Seu objetivo era claro: criar bicicletas duráveis, acessíveis e de qualidade. A marca rapidamente se tornou sinônimo de confiabilidade e expandiu-se pela Europa. No entanto, a eclosão da Segunda Guerra Mundial interrompeu seus planos de expansão internacional. Foi nesse cenário de reconstrução global que a Monark tomou a decisão estratégica de buscar novos horizontes fora da Europa, chegando oficialmente ao Brasil em 1948 como importadora e montadora.
Inicialmente, as bicicletas eram montadas com peças importadas da matriz sueca, em um processo quase artesanal, mas que já conquistava o brasileiro pela resistência e preço acessível. A demanda crescente levou à abertura da primeira fábrica brasileira em São Paulo, em 1951, marcando o nascimento oficial da Monark brasileira e o início da fabricação de bicicletas 100% nacionais. Com um investimento inicial de empréstimos da matriz sueca, a empresa rapidamente prosperou, alcançando uma produção anual de 60.000 unidades em 1953.
Os anos 60 e 70 foram a era de ouro da Monark. Em forte rivalidade com a Caloi, a Monark se destacou por focar no brasileiro comum, oferecendo bicicletas robustas, confiáveis e acessíveis para o dia a dia de trabalhadores e estudantes. Modelos como a Monareta, que se tornou um símbolo da juventude dos anos 70, e a Barra Circular, a "queridinha" de trabalhadores rurais e entregadores, eram presenças constantes nas ruas do Brasil. A Monark não apenas fabricava bicicletas, mas também inovou, lançando a primeira BMX do Brasil em 1978 e contribuindo significativamente para a popularização do esporte no país. Naquela época, a Monark era mais do que uma empresa; era parte da cultura popular brasileira, empregando mais de 10.000 pessoas e sendo listada na Bovespa.
Contudo, a virada da década de 90 trouxe consigo um declínio brusco. A abertura do mercado brasileiro para as importações, especialmente de bicicletas asiáticas mais baratas, criou um ambiente de concorrência desafiador. A Monark, que prezava pela qualidade, viu-se em desvantagem contra produtos de baixo custo e produção em larga escala, mesmo que não oferecessem a mesma durabilidade. A empresa enfrentou a difícil escolha de reduzir a qualidade para competir em preço, uma decisão que relutou em tomar, declarando que preferia "fechar a fábrica do que fabricar bicicletas ruins como as da China".
Essa filosofia levou à reestruturação, com o fechamento de fábricas em Manaus e São Paulo entre 2006 e 2008, e a concentração da produção em Indaiatuba, São Paulo, em um movimento de corte de custos. No entanto, os custos e as dívidas se acumularam, e a Monark sumiu das grandes redes de varejo e campanhas de marketing, tornando-se uma lembrança nostálgica para muitos. A chegada de novos concorrentes como a Sandal, com foco em custo-benefício, adicionou mais um golpe à já fragilizada situação da empresa.
Hoje, a Monark opera de uma forma muito diferente. Chegando a 2020, a empresa se transformou em uma espécie de gestora de ativos disfarçada de fabricante. Com um valor de mercado de cerca de R$ 200 milhões, a maior parte de seu lucro anual de R$ 15 milhões provém de aplicações financeiras, e não da venda de bicicletas. Embora ainda fabrique alguns modelos, principalmente a clássica Barra Circular, sua produção é pequena, o portfólio enxuto e sua presença no varejo é mínima. Recentemente, a empresa precisou lidar com um novo desafio, desvinculando-se publicamente do youtuber conhecido como "Monarque" após declarações controversas.
A história da Monark é uma poderosa reflexão sobre a resiliência e a capacidade de adaptação no mundo dos negócios. Embora não esteja mais no auge das vendas ou nas vitrines das grandes lojas, seu legado como ícone cultural brasileiro persiste. A jornada da Monark nos mostra que o sucesso não é linear e que a sobrevivência, por vezes, exige uma reinvenção completa do modelo de negócios. A marca prova que, mesmo sem estar em constante movimento no mercado, sua história continua a ser escrita, firmemente enraizada na memória afetiva de gerações.