os Desafios e o Futuro da Economia Brasileira na Visão Liberal

 


O ex-ministro Paulo Guedes oferece uma análise profunda e provocadora sobre a trajetória econômica e política do Brasil, traçando paralelos históricos e defendendo princípios liberais como caminho para o desenvolvimento. Suas observações, repletas de metáforas e exemplos concretos, convidam à reflexão sobre os rumos do país.

O Legado da Centralização e a Transição Incompleta

Guedes inicia sua análise com uma crítica contundente à centralização de poder e de administração, citando a França do Antigo Regime (analisada por Alexis de Tocqueville), a desintegração da União Soviética e o colapso econômico da Venezuela como exemplos históricos de como a concentração de poder leva à degeneração política e à estagnação econômica. Para ele, a Venezuela, que outrora possuía uma altíssima renda per capita, foi "destruída" em 15 anos por essa trajetória.

No contexto brasileiro, Guedes argumenta que o país vivenciou uma "transição incompleta": embora tenha havido uma abertura política, não houve uma correspondente abertura e descentralização econômica. O Brasil, segundo ele, permanece "órfão do poder central", com tudo ainda dependendo excessivamente de Brasília.

Os Algoritmos Liberais para o Sucesso

A visão liberal, segundo Guedes, fundamenta-se em dois "algoritmos" essenciais para o sucesso político e econômico.

  • Decisão Política: O poder deve ser limitado e descentralizado, em oposição ao totalitarismo, onde o poder é concentrado e ilimitado. Regimes democráticos, com poderes independentes que se limitam mutuamente, são a expressão dessa descentralização política.
  • Sucesso Econômico: Economias de mercado, com sistemas de inteligência descentralizada, onde pequenos centros de decisão espalhados pelo país são coordenados pelo sistema de preços, são cruciais. Isso, ele explica, gera uma classe média forte, impostos e juros baixos, crescimento rápido e, consequentemente, estabilidade política.

A Democracia Brasileira em Aperfeiçoamento Institucional

Apesar dos desafios, Guedes enxerga o momento atual do Brasil como um "épico de desenvolvimento institucional" e um "aperfeiçoamento institucional". Ele destaca que, nos últimos 20-30 anos, os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo têm se tornado mais independentes, buscando limitar o poder uns dos outros, o que ele descreve como uma "democracia vibrante". A pressão entre os poderes, e a participação da população nas ruas, são vistas como sinais de que os "espaços democráticos" foram ampliados, e não reduzidos, permitindo a alternância e a manifestação de diferentes grupos políticos.

Ele refuta a ideia de que a democracia brasileira está em risco, enfatizando que o sistema democrático tem reagido e absorvido pressões como hiperinflação, moratória externa e corrupção sistêmica sem se perder.

A "Baleia Ferida" da Economia Brasileira e as Reformas Necessárias

Guedes utiliza a metáfora da "baleia ferida" para descrever a economia brasileira. Por 40 anos, a baleia (o Brasil, que já cresceu mais que China, Japão e Coreia) foi "ferida" por "arpões": juros altos, impostos altos e uma economia fechada. Os gastos públicos subiram de 18% do PIB para 45% do PIB em 40 anos, os impostos aumentaram sem parar, os juros permaneceram altíssimos, e a economia desacelerou drasticamente, crescendo abaixo de 1% em média nos últimos anos. Essa situação é atribuída à falta de coordenação entre políticas monetária e fiscal, especialmente após o Plano Real, que, embora brilhante monetariamente, foi um "desastre do ponto de vista fiscal".

Para reanimar essa baleia, o ex-ministro defende uma série de reformas e ações:

  • Reforma da Previdência: Considerada uma demonstração de "maturidade extraordinária da opinião pública brasileira", com milhões de pessoas indo às ruas para apoiar o sacrifício em favor das futuras gerações.
  • Liberalização Econômica: Abertura para o Mercosul, União Europeia, EFTA, e acordos com países como Argentina, México, Canadá e Coreia do Sul.
  • Privatizações: Um programa ambicioso, com metas de venda e planos para privatizações maiores no futuro, visando a desestatização e o aquecimento da economia.
  • Desalavancagem de Bancos Públicos: Redução do crédito público e foco do BNDES em áreas essenciais como o saneamento básico, que tem impacto direto na expectativa de vida, especialmente no Norte e Nordeste. Guedes critica o uso de dinheiro público para "empresários campeões" que financiam campanhas eleitorais.

Tolerância e Persistência para o Futuro

Guedes faz uma distinção entre liberais e social-democratas, afirmando que, enquanto os segundos acreditam no governo e "toleram" o mercado, os liberais acreditam nos mercados e "toleram" o governo, reconhecendo sua necessidade para estabelecer regras, ajudar os mais frágeis e garantir a representatividade, mas não como geradores de riqueza. Ele defende que os governos fazem transferências de renda, tributando os que produzem para dar igualdade de oportunidades.

Conclui reforçando que o Brasil é uma democracia "forte e robusta". Ele pede tolerância e persistência, argumentando que, após décadas de políticas equivocadas, é preciso dar tempo para que as reformas funcionem e a economia se recupere. Guedes expressa otimismo de que o país mostrará uma resposta positiva, com a economia começando a andar e ganhando ritmo no próximo ano, apesar dos grandes "buracos financeiros" deixados para trás. A mensagem final é de confiança na capacidade do Brasil de seguir em frente, independentemente das polarizações políticas.

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