O Caso da "Serial Killer do Veneno": Detalhes de Manipulação, Frieza Extrema e Homicídios Meticulosos
O caso criminal que emergiu recentemente, envolvendo Ana Paula Veloso Fernandes, de 36 anos, tem chocado o Brasil, sendo rapidamente classificado pelas autoridades como o de uma verdadeira serial killer. O que mais causa estranheza e morbidez é o comportamento da acusada, que consegue sorrir enquanto é interrogada, uma constatação da satisfação pela morte, ou talvez, simplesmente, loucura.
Este caso tem chamado a atenção por apresentar um "cardápio completo de uma mente doentia clássica" de um serial killer, marcado por controle, manipulação extrema e frieza.
O Perfil Calculista da Acusada
Ana Paula Veloso Fernandes é técnica de enfermagem e estudante de direito, tendo uma irmã gêmea chamada Roberta. Em seus círculos sociais, ela era vista como uma pessoa reservada e até mesmo altruísta.
Entretanto, especialistas sugerem que ela apresenta traços de psicopatia funcional, uma condição na qual o indivíduo possui o padrão emocional e comportamental de um psicopata clássico, mas usa essas características de forma socialmente aceitável, estratégica ou disfarçada. A investigação a descreve como extremamente calculista, um "camaleão" que se adapta ao ambiente e conduz a situação para alcançar seus objetivos. Ela é descrita como uma pessoa com tendências à psicopatia, manipuladora, fria e que distorce a realidade.
O prazer mórbido pelo errado e pela morte fica evidente, pois a acusada agia de forma meticulosa, ganhando a confiança das pessoas para, em seguida, executar seus planos.
O Modus Operandi e as Quatro Vítimas
A justiça de São Paulo classificou Ana Paula como uma serial killer por causa do uso insidioso de veneno, o planejamento meticuloso e a dificuldade de defesa das vítimas. Ela foi denunciada por quatro homicídios qualificados – três em Guarulhos e um no Rio de Janeiro – além de responder por fraudes processuais e ocultação de provas.
O veneno principal utilizado era o terbufós, um inseticida altamente tóxico, menos rastreável que o "chumbinho" popular.
1. Marcelo Hari Fonseca (Janeiro de 2025)
Marcelo, 50 anos, morador de Guarulhos, vivia sozinho. Ana Paula e sua irmã, Roberta, mudaram-se do Rio de Janeiro para viver nos fundos do imóvel de Marcelo. Uma discussão banal teria sido o estopim para o desejo de matá-lo.
Durante semanas, Ana Paula observou meticulosamente a rotina, horários e hábitos alimentares da vítima, denotando frieza e paciência estratégica. Após o crime, foi a própria Ana Paula quem ligou para a polícia, fingindo preocupação com o desaparecimento do vizinho e, com "a maior cara de pau," entrou com os policiais na casa, chegando a errar o nome do falecido. Marcelo foi encontrado morto, em estado avançado de decomposição, e o caso foi inicialmente arquivado como morte por causas naturais.
A petulância da assassina foi o que levou ao desarquivamento do caso, pois ela passou a tomar conta da casa e a impedir o acesso dos parentes de Marcelo. Ela chegou a queimar o sofá e alguns objetos na rua, talvez na tentativa de destruir vestígios.
2. Maria Aparecida Rodrigues (Sida/Mara) (Abril de 2025)
Em abril de 2025, Ana Paula aproximou-se de Maria Aparecida, 49 anos, por meio de um aplicativo de relacionamentos, usando o nome falso de "Carla". Elas iniciaram um relacionamento afetivo, mas Ana Paula mantinha, simultaneamente, um caso com um policial militar casado que havia decidido se afastar dela.
Rejeitada pelo PM, Ana Paula planejou se vingar e incriminá-lo pela morte de Cida. Ela criou uma trama complexa, enviando ameaças para Cida como se fossem do militar ou de sua esposa, arquitetando um falso cenário de crime passional.
Cida foi encontrada morta na cama, espumando pela boca. No local, havia um bilhete com a letra da vítima: "perigoso homem perigoso vai me matar" — um bilhete que a acusada a fez escrever. A morte foi registrada, inicialmente, como natural. Ana Paula ficou frustrada porque o plano de incriminar o PM não deu certo. Ela tentou, então, culpar o ex-namorado militar, ligando para a polícia para relatar que havia encontrado um bolo supostamente envenenado na universidade, alegando que sentia um "odor de morte" no alimento.
Essa tentativa de incriminação se voltou contra ela (o "tiro saiu pela culatra"). A polícia levantou vários boletins de ocorrência onde Ana Paula sempre aparecia como denunciante ou testemunha, incluindo nas mortes de Marcelo e Cida.
3. Neil Correa da Silva (Abril de 2025)
Ainda em abril de 2025, Ana Paula viajou ao Rio de Janeiro para cumprir uma missão encomendada por Michele Paiva da Silva, filha de Neil Correa da Silva. Michele, que nutria ressentimentos pelo pai de 65 anos, queria antecipar a herança e se livrar de um relacionamento familiar conturbado.
Ana Paula aceitou a oferta, combinando um valor entre R$ 4.000 e R$ 4.500 para executar o assassinato de forma limpa. Antes de agir, ela testou o terbufós em dez cães, observando os efeitos, tempo de ação e a melhor forma de mascarar o sabor.
O crime foi executado com uma feijoada envenenada, oferecida sob o disfarce de um almoço de reencontro de amizade. Neil morreu pouco depois, e a morte foi inicialmente tratada como natural. Meses mais tarde, o corpo foi exumado para exames toxicológicos que confirmaram o envenenamento. Ana Paula confessou o crime, detalhando todo o planejamento. Michele Paiva também foi presa por ter encomendado a morte do pai.
4. Wider Masres (Maio de 2025)
Em 23 de maio de 2025, Ana Paula vitimou Wider Masres, um tunisiano de 36 anos, conhecido por meio de redes sociais. Wider era trabalhador e financeiramente estável, o que despertou o interesse da acusada. A polícia acredita que o interesse financeiro era o principal motivo do crime.
Ana Paula aproximou-se rapidamente, fingindo paixão e chegando a inventar uma gravidez, sugerindo casamento. Wider foi encontrado morto em seu apartamento, com a morte classificada como súbita e natural. A irmã de Wider procurou as autoridades após Ana Paula começar a ameaçar a família, exigindo dinheiro e participação na herança, e pressionando para viajar à Tunísia como a "viúva legítima". A hipótese de envenenamento se tornou provável, dada a presença da acusada em mais uma "morte natural".
Investigação e Envolvimento da Cúmplice
A prisão de Ana Paula Veloso ocorreu após uma investigação minuciosa da Polícia Civil. O ponto de virada foi quando a polícia percebeu que ela estava constantemente na delegacia para se informar sobre os inquéritos e, principalmente, depois que ela tentou incriminar o policial militar com a história do bolo envenenado.
No cumprimento do mandado de busca, investigadores encontraram frascos contendo o terbufós, substância que se tornou uma das principais evidências de seu padrão de atuação. Ana Paula utilizava conhecimento técnico e manipulação emocional para conquistar a confiança das vítimas e eliminá-las. Ela também tentava confundir as autoridades, criando álibis falsos e enviando mensagens dos celulares das vítimas para simular que ainda estavam vivas.
Atualmente, Ana Paula está presa na penitenciária feminina de Santana, aguardando julgamento.
O Papel da Irmã Gêmea
A polícia não descarta a possibilidade de novas vítimas e está investigando o envolvimento da irmã gêmea de Ana Paula, Roberta. A polícia acredita que Roberta atuava como cúmplice, auxiliando no planejamento, encobrimento e execução de algumas ações.
Nos celulares apreendidos, foram encontradas conversas "em código" entre as irmãs, detalhando etapas das mortes e estratégias para disfarçar a autoria. Em uma dessas conversas, elas usaram o código "TCC" (Trabalho de Conclusão de Curso) para se referir ao crime contra Neil. Especialistas apontam que essa dinâmica reforça o comportamento narcisista e psicopático de Ana Paula, com a irmã funcionando como um suporte estratégico.
O caso está sendo estudado pelo Núcleo de Análise Comportamental do DHPP, que busca traçar o perfil psicológico e comportamental completo de Ana Paula, que deve ser entrevistada por peritos psicólogos criminais. Para os investigadores, o caso de Ana Paula representa um exemplo raro de criminalidade metódica feminina, onde a inteligência, o sangue frio e a manipulação psicológica foram usados como armas letais, assemelhando-se às lady killers de séculos passados. As investigações continuam, e o caso é analisado como um dos mais complexos e sombrios já registrados na criminologia brasileira.