Reflexões sobre Justiça, Mídia e Relacionamentos na Visão de Dr. João Neto
Os excertos dos vídeos de entrevistas com o Dr. João Neto oferecem um material rico e complexo para reflexão, abordando temas que vão desde as falhas na aplicação da justiça e a perseguição midiática, até questões profundas sobre o que significa ser um homem, um parceiro e um profissional de sucesso no Brasil contemporâneo.
A Controversa Aplicação da Lei e a Busca pela Justiça Célere
O ponto central da narrativa de Dr. João Neto é sua prisão e condenação baseada na Lei Maria da Penha, um processo que ele descreve como o mais célere do mundo, levando apenas 45 dias. O incidente que levou à sua detenção é descrito como uma discussão que escalou a um ato de imprudência: ao tentar forçar sua então companheira a sair do apartamento, ambos caíram, resultando em lesão corporal.
Neto argumenta veementemente que o resultado não foi intencional (dolo), mas sim uma lesão corporal culposa, decorrente de sua imprudência ao empregar força desproporcional num piso de porcelanato. Contudo, ele foi condenado pela pena máxima com base em dolo eventual (assumindo o risco do resultado), o que o fez tomar 5 anos de prisão, reduzidos após confissão espontânea para 2 anos e 2 meses.
Uma reflexão crucial emerge da crítica à aplicabilidade da Lei Maria da Penha: Neto, embora seja "completamente a favor da Lei Maria da Penha", denuncia que ela está sendo aplicada de forma falha, onde "a verdade da mulher está sendo absoluta, não está sendo relativa". Ele defende um projeto de lei para responsabilizar mulheres que falsamente imputem crimes a seus companheiros (denunciação caluniosa).
O processo, segundo ele, foi marcado pela perseguição e pela necessidade do Judiciário de dar satisfação à sociedade. O magistrado, inclusive, teria alegado em sua sentença que, apesar de não se deixar levar pela comoção popular, não poderia deixar de aplicar uma pena mais dura diante da repercussão do crime.
A Mídia e a Inveja do "Pretinho"
Dr. João Neto atribui grande parte da repercussão negativa e da severidade de sua punição à inveja e ao despeito motivados por seu sucesso e notoriedade. Ele se descreve como um "negro estudado" que incomodava por se inserir em lugares de destaque que muitos pensavam ser inatingíveis para pessoas negras ou pobres.
A mídia sensacionalista é duramente criticada. Ele chama veículos e jornalistas específicos de "bandidos" e "jornalezinhos" que não apuram os fatos. A pressa em noticiar, como no caso em que as imagens do condomínio vazaram antes mesmo de ele chegar à delegacia, acabou declarando guerra à sua vida e carreira. O vazamento das imagens foi um prato cheio, pois mostravam a ex-companheira sangrando, levando a mídia e o público a concluírem que houve um espancamento.
A repercussão resultou em um prejuízo financeiro estimado em R$ 5 milhões em propaganda e devolução de dinheiro de clientes.
Relacionamentos, Honra e Machismo
Os vídeos expõem a visão de Neto sobre relacionamentos, pautada em um código de conduta tradicional, que ele assume ser machista. Para ele, o casamento requer abdicação mútua e respeito.
A gênese da briga, por exemplo, foi a desaprovação de Neto quanto à roupa de academia usada pela companheira em um lava-jato (local que só teria homens) e um vestido com fenda grande. Ele alega que tal comportamento não era de uma "mulher casada" e traria problemas desnecessários para o casal.
Neto defende que, enquanto o homem tem o dever de ser o provedor, pagando contas e garantindo o sustento, a mulher tem o papel de zelar pela casa, ser sua parceira e manter o respeito, tanto dentro quanto fora de casa. Ele lamenta que, hoje, o homem está se tornando "refém dessa lei" e que a sociedade está caminhando para que os homens não queiram mais construir família ou ter patrimônio.
Apesar de seu código rigoroso, ele afirma ter sempre tratado bem suas parceiras, nunca as proibindo de trabalhar ou estudar, e nunca tendo agredido fisicamente nenhuma delas. Ele reconhece, contudo, ter vacilado e ferido sua ex-companheira.
A "Bomba" e a Reviravolta Pessoal
O artigo de reflexão não estaria completo sem a "bomba" revelada ao final da entrevista: Dr. João Neto e sua ex-companheira, Andreina, reataram e estão noivos.
Andreina gravou um vídeo (apresentado no podcast) declarando que Neto "jamais a agrediu" e que o fato que originou a situação foi um acidente. Ela afirmou ter feito a declaração precipitada de violência doméstica "no calor do momento, tomada por raiva e nervosismo".
A volta do casal, segundo Neto, não é por interesse financeiro, visto que ele perdeu muito de seu patrimônio e vive em um padrão de vida reduzido. O retorno dela demonstra, para ele, que o problema estava no comportamento e na imaturidade de ambos, e não em agressões contínuas.
Neto espera que o depoimento e o retorno da relação possam ter consequências legais positivas, como a extinção das medidas protetivas (que já foram retiradas) e a desclassificação do crime de dolo eventual para lesão corporal culposa em sua apelação.
Conclusão
A jornada de Dr. João Neto, conforme narrada nos vídeos, é um espelho das tensões sociais e jurídicas no Brasil. O caso levanta questões sobre o peso da opinião pública na justiça, a ética jornalística e as complexidades dos relacionamentos íntimos sob o olhar implacável da lei e da sociedade. Neto, que confessa ter tentado tirar a própria vida na prisão devido à injustiça percebida, transformou a experiência em um aprendizado de autocontenção e em motivação para novos projetos, como cursar Medicina. A reviravolta no relacionamento, com a retratação da acusação, serve como um poderoso (e talvez irônico) contraponto à celeridade e severidade com que o sistema o puniu. Ele conclui que o importante é a lição aprendida: "só aprende quem aprende com os próprios erros", mas que é melhor aprender com os erros dos outros.