Neom: A Cidade de Um Trilhão de Dólares no Deserto Saudita – Ambição, Petróleo e o Confronto de Mundos
A Arábia Saudita está a construir Neom, uma cidade futurista de trilhões de dólares, no árido deserto do seu canto noroeste. Inicialmente orçado em 500 mil milhões de dólares, o projeto está agora estimado em 1,5 trilhão de dólares, representando um investimento colossal da riqueza petrolífera do reino para definir seu próximo capítulo civilizacional.
Mesmo sendo descrita por céticos como uma "miragem de ambições", a atividade de construção em Neom é descrita como "insana". Observando a região, percebe-se uma frota constante de caminhões basculantes e máquinas trabalhando dia e noite, movendo areia e até mesmo "erguendo montanhas". A magnitude da escavação é descrita como impressionante e de "cair o queixo".
Os Pilares do Futuro Saudita
Neom não é uma cidade única, mas sim um conjunto de regiões altamente especializadas, projetadas para atrair investimento e habitantes. Entre os projetos em andamento estão:
- Oxagon: Uma cidade industrial futurista, parcialmente construída sobre a água, destinada à manufatura de alta tecnologia, pesquisa e logística. Serve como um porto vital que conecta o mundo.
- Sindalah: Uma ilha resort de luxo localizada no Mar Vermelho, que já está quase finalizada (cerca de 99%) e oferece espaço abundante para iates.
- Trojena: Um destino turístico de luxo nas montanhas, focado em retiros de aventura e bem-estar. Trojena é notável por planejar a construção de um lago artificial e oferecer atividades ao ar livre, como mountain bike e esqui, utilizando neve artificial, já que a neve natural é insuficiente. Sua construção envolve o uso de dinamite para esculpir o necessário, em uma montanha historicamente associada a Moisés.
- Magna: Uma área costeira onde o Reino está construindo 12 resorts e comunidades de luxo sobre as ruínas de vilas que tiveram seus habitantes realocados à força.
- The Line (A Linha): O componente mais famoso, uma cidade futurista que se estenderá por 170 km. O objetivo é abrigar 10 milhões de pessoas (o equivalente à população de uma Nova York inteira), e o projeto promete funcionar com energia renovável e inteligência artificial.
É importante notar que muitas das imagens divulgadas são renderizações 3D e visualizações promocionais criadas por Neom para mostrar como desejam que o projeto fique, pois ainda não existem na realidade.
A Questão Fundamental: Por Que Agora?
O ímpeto por trás de Neom é, em grande parte, uma necessidade econômica. O petróleo transformou o reino desértico em um país moderno e poderoso. No entanto, a Agência Internacional de Energia prevê que o pico da demanda por petróleo ocorrerá em 2030, após o qual cairá. O futuro não é o petróleo, e o reino, que depende fortemente dele (com a Aramco tendo quedas significativas nos lucros), precisa se transformar para manter seu status global.
Neom é a aposta da Arábia Saudita para substituir a economia petrolífera por novas indústrias, incluindo turismo, tecnologia, sustentabilidade e manufatura. O reino está se abrindo para turistas, esperando atrair o mundo, assim como Dubai fez, mas em uma escala ainda maior. Além disso, o sol abundante é ideal para energia solar e o reino planeja usar energia eólica e solar para desenvolver novas formas de energia de hidrogênio para o mundo.
O sucesso do projeto depende crucialmente de investidores externos e de atrair pessoas para viverem, trabalharem e investirem lá.
O Preço Humano e o Passado Beduíno
A construção de Neom representa uma "colisão de mundos, antigo e novo". Por séculos, o deserto foi o lar dos beduínos nômades, que representam a história do reino. Apesar da rápida modernização trazida pelo petróleo, centenas de milhares de pessoas ainda mantêm esse estilo de vida, valorizando a sensação de paz e simplicidade que a cidade, segundo eles, nunca trará.
O narrador viajou com Solom, que cresceu no deserto e conhece a vida beduína, desfrutando da hospitalidade tradicional, que inclui café verde com cardamomo, chá e refeições com carne de camelo.
No entanto, a criação de Neom teve um custo humano significativo. Milhares de pessoas foram realocadas à força para dar lugar ao projeto. Embora o governo saudita tenha pago compensações, alguns se recusaram a sair. Um indivíduo que postou nas redes sociais expressando indignação foi morto em um tiroteio com forças de segurança. Pelo menos 47 aldeões foram detidos sob acusações de terrorismo, e cinco enfrentam a pena de morte.
A escala e o risco desses projetos massivos refletem o desafio existencial da Arábia Saudita. A ambição é clara: se apenas alguns destes projetos funcionarem, eles podem se tornar o "próximo petróleo" do reino, elevando-o para o futuro.