A Trajetória de Ódio e a Infiltração do Extremismo nas Redes
A história de Vítor Stavali, mais conhecido como Vicky Vanilla, é uma narrativa que ultrapassa os limites do bizarro, servindo como uma reflexão alarmante sobre como o extremismo, o fanatismo e o discurso de ódio conseguem se infiltrar e se transformar em armas letais contra minorias e a própria democracia. Sua trajetória, que incluiu as fases de ocultista/satanista, pastor e, finalmente, líder de um movimento neonazista, expõe a velocidade e a facilidade com que a polêmica e a controvérsia podem ser monetizadas e institucionalizadas nas plataformas digitais,,.
A Metamorfose e o Estelionato Espiritual
A escalada de Vick rumo à polêmica começou em meados de 2022, mas suas aparições públicas iniciaram na cena LGBTQIA+ como drag queen, flertando com práticas místicas e ocultistas antes de se autodenominar sacerdote luciferiano,. Com o tempo, ele fundou a autodenominada Igreja Luciferiana do Novo Aeon, um espaço que rapidamente se transformou em um espetáculo midiático focado em polêmica e visualizações, exatamente o que os podcasts buscavam.
O que começou como um negócio espiritual rapidamente se provou um campo fértil para o estelionato espiritual,. A expectativa de sucesso e riqueza atraiu vítimas, como a cidadã italiana Luma Neider, que pagou inicialmente R$ 60.000 (valor que ultrapassou R$ 100.000 com despesas) por rituais de prosperidade, mas teve sua vida destruída, enfrentando endividamento e perda de sanidade mental após o trabalho,,.
Em um movimento repentino, Vick Vanila anunciou sua conversão ao cristianismo, gerando acusações de estelionato e traição por parte dos seus seguidores esotéricos. Esse período foi marcado pela destruição, em live, de um assentamento religioso – material que pertencia a Luma Neider e estava sob sua manutenção, quebrando-o sem autorização,. Posteriormente, ele se aproveitou da morte do escritor Daniel Mastral (figura que ele anteriormente zombava) para construir sua própria narrativa, posicionando-se como seu sucessor espiritual e usando um diploma de teólogo para abrir sua própria igreja,,.
A Monstruosidade e a Cultura da Violência
As polêmicas de Vick iam além do campo espiritual, com relatos de que seus comportamentos eram violentos, agressivos, ameaçadores e frequentemente beiravam a criminalidade. Sua ex-sócia, Daniele Fernandes, foi vítima de agressões físicas e psicológicas, como o episódio em que um violão foi quebrado em sua cabeça por tentar proteger a esposa de Vick, Antônia,. Há evidências de que o comportamento violento era recorrente, e que ele surtava por motivos banais, arremessando objetos e agredindo a esposa.
O que os relatos indicam é que quanto mais poder aquisitivo e potência na internet ele adquiria, mais monstruoso ele se tornava. A violência se estendia ao público, com Vick sendo flagrado andando armado pelas ruas de São Paulo, intimidando pessoas,.
A Guinada para o Neonazismo e o Risco Democrático
O ponto mais perturbador da trajetória de Vanila é sua guinada radical: ele se declarou abertamente neonazista e prometeu fundar o primeiro partido da causa ariana no Brasil,,. Ele não só administra comunidades inteiras no Telegram e Discord dedicadas à disseminação de discursos de ódio neonazistas, como também se envolve em atividades que configuram terrorismo, como a sugestão de um plano de extermínio contra frequentadores de bailes funk em São Paulo através de ataque aéreo com helicópteros armados. Ele também foi ligado ao tráfico de armas, oferecendo um fuzil T4, armamento de uso restrito, por R$ 90.000.
O objetivo final é transformar o discurso de ódio em bandeira política e institucionalizar o preconceito e o extremismo, o que representa um sério risco. A legislação brasileira é inequívoca, tipificando como crime de racismo praticar, induzir ou incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, com penas que podem chegar a 5 anos de prisão, especialmente quando o crime é cometido nas redes sociais. Além disso, a apologia pública a fatos criminosos, como elogios a Adolf Hitler ou a negação do holocausto, é crime previsto no Código Penal.
O nazismo não é considerado uma simples opinião, mas uma ideologia que pregou o extermínio de milhões de pessoas, e sua divulgação coloca em risco a convivência democrática e a segurança das minorias. Embora ele mantenha contato com grupos neonazistas da Europa e siga ativo nas redes a partir da Lituânia, a luta por justiça continua,.
A história de Vicky Vanilla sublinha que a linha entre o "virtual" e o "real" não existe mais; o que é proliferado nas redes sociais tem impacto direto na criminalidade e na política, e a impunidade apenas permite que a narrativa criminosa avance, ganhando novos seguidores,.
A ascensão e as múltiplas guinadas de Vicky Vanilla nas redes sociais funcionam como um laboratório a céu aberto do extremismo. Assim como um vírus que sofre mutações rápidas, ele muda de hospedeiro (do ocultismo ao cristianismo, e daí ao nazismo) para garantir a sobrevivência e a proliferação do seu principal vetor: o ódio e o ganho pessoal, provando que a ideologia pode ser apenas um disfarce para a violência e a exploração.
