O recente vídeo "México, Venezuela, El Salvador... Brasil? Os países com cartéis na mira de Trump" do canal "Hoje no Mundo Militar" lança luz sobre uma guinada significativa na política externa dos Estados Unidos: a designação de cartéis de drogas como organizações terroristas e a subsequente instrução do Presidente Donald Trump ao Pentágono para usar força militar contra eles. Essa medida abre um leque de possibilidades militares e diplomáticas, com reverberações que se estendem por todo o continente americano e além.
O Alvo da Nova Doutrina Americana
A estratégia foca inicialmente em organizações já conhecidas por sua brutalidade e alcance global. Entre os principais alvos destacam-se:
Cartel de Sinaloa (México): Fundado por "El Chapo" Guzmán, é um dos maiores e mais poderosos do mundo. Apesar da prisão de seu líder, a organização se adaptou e continua operando, com sua rede de tráfico estendendo-se globalmente e sendo uma das principais responsáveis pela produção de fentanil, substância que causa "danos brutais" na sociedade norte-americana.
Cartel Jalisco Nova Geração (CJNG - México): Considerado um adversário crescente do Cartel de Sinaloa, o CJNG se estabeleceu rapidamente como um dos maiores e mais bem armados grupos traficantes. Sua aliança com uma facção do Sinaloa, uso de violência extrema, e envolvimento em "negócios legais como o mercado imobiliário e a produção de abacate" dificultam seu combate e mostram sua complexidade e ramificações globais, chegando à Ásia e Austrália.
Cartel del Noreste (CDN - México): Uma ramificação dos temidos Zetas, o CDN é conhecido por sua história de "violência extrema". Embora fragmentado após a morte de seu líder em 2012, suas atividades criminosas, incluindo tráfico de drogas, armas e exploração de migrantes, persistem.
Trem de Aragua (Venezuela): Originário de uma prisão, este grupo se espalhou por toda a América Latina, envolvido em "tráfico de seres humanos e sequestros", e com uma crescente rede de influência em países como Brasil, Colômbia e Chile. É designado como uma organização criminosa transnacional.
Cartel de Los Soles (Venezuela): Alarmantemente, este cartel é "comandado pelo próprio ditador venezuelano Nicolás Maduro" e conta com "as mais altas personalidades políticas, jurídicas e militares da Venezuela". Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, é o principal responsável pela entrada de cocaína nos Estados Unidos, traficando mais de 250 toneladas anualmente.
MS13 (El Salvador/América Central): Surgida nas ruas de Los Angeles nos anos 80, essa gangue de origem salvadorenha é notória por suas "práticas violentas e extorsivas". Tem sido alvo de intensas ações de deportação e da política de "guerra às gangs" do presidente salvadorenho Naib Bukele, mas continua sendo uma das mais ativas e violentas da região.
Cartel do Golfo (México): Um dos mais antigos do México, com uma trajetória marcada por "violência extrema". Apesar de enfraquecido pela prisão de alguns líderes, o grupo "continua operando em amplas áreas do México".
O Brasil na Mira: Uma Questão de Soberania
A maior parte do vídeo dedica-se a explorar a preocupação crescente dos Estados Unidos com facções criminosas brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). Esses grupos, conhecidos por sua "extrema brutalidade e envolvimento em atividades terroristas e criminosas de grande escala como tráfico de drogas, armas e sequestros", têm sido objeto de tentativas americanas de obter seu reconhecimento como organizações terroristas por parte do governo brasileiro.
Até o momento, o Brasil resistiu a essa classificação. A razão para essa resistência é crucial: tal reconhecimento "poderia abrir portas para cooperação com os Estados Unidos em ações militares de grande envergadura contra essas facções". A preocupação central reside na questão da soberania nacional.
O cenário, contudo, pode mudar drasticamente:
Designação Unilateral: Os Estados Unidos podem decidir formalmente designar o CV e o PCC como organizações terroristas "mesmo sem o consentimento do governo brasileiro".
Ações Diretas: Se os EUA avançarem com "ações diretas" contra esses grupos, como Trump prometeu, as consequências para o Brasil seriam "graves e profundas". Uma intervenção militar americana em solo brasileiro, mesmo que direcionada apenas aos grupos criminosos, provavelmente provocaria uma "forte condenação" do governo brasileiro, com a "possibilidade de ações legais" e a "convocação de uma reunião nas Nações Unidas para tratar da violação da soberania nacional".
Repercussões Militares e Sociais: Do ponto de vista militar, as operações poderiam envolver "operações especiais e de inteligência", incluindo "ataques de precisão a partir de meios de elevada altitude como os drones de ataque". No entanto, é ressaltado que os cartéis brasileiros possuem um "poder de fogo considerável e uma estrutura organizacional muito complexa", o que sugere que a eliminação de alguns membros pode não levar ao fim das organizações. Além das tensões diplomáticas e militares, a "opinião pública brasileira poderia reagir de forma muito negativa", aprofundando o "sentimento anti-americano, principalmente na ala mais à esquerda da sociedade brasileira".
Reflexões Finais
A possibilidade de os Estados Unidos incluírem o CV e o PCC em sua lista de organizações terroristas é uma ameaça real, considerando as ações tomadas pela administração Trump em outros países. Essa situação expõe um dilema complexo: como combater organizações criminosas transnacionais de alta periculosidade sem ferir a soberania das nações envolvidas?
A estratégia de designar cartéis como terroristas e a disposição de usar força militar representam uma escalada significativa na "guerra às drogas". No entanto, a eficácia de soluções puramente militares contra redes com estruturas organizacionais complexas e ramificações globais, muitas vezes infiltradas em setores legítimos da economia, é questionável. Além disso, a potencial violação da soberania nacional, como no caso do Brasil, pode gerar instabilidade diplomática e um forte sentimento anti-americano, complicando ainda mais o cenário de combate ao crime organizado.
O vídeo nos convida a refletir sobre a interconexão do crime organizado global, a evolução das táticas de combate a ele e os delicados equilíbrios de poder e soberania internacional que estão em jogo.
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