A Voz Ignorada e o Despertar da Justiça: Uma Reflexão Sobre Credibilidade e Visibilidade
A prisão preventiva do influenciador digital Hytalo Santos e de seu marido, Israel Nata Vicente, por acusações gravíssimas como exploração e exposição de menores, intimidação de testemunhas e destruição de provas, trouxe à tona não apenas um caso chocante, mas também uma profunda reflexão sobre a forma como a sociedade lida com denúncias e a complexa dinâmica da credibilidade e visibilidade.
No centro dessa discussão está Antônia Fontenelle, que há muito tempo vinha denunciando as atividades ilícitas de Hytalo Santos. Em um desabafo emocionante, Antônia expressou a dor de ter sido ignorada por tanto tempo, mesmo alertando sobre os riscos e pedindo ajuda repetidamente. Ela relembra que suas denúncias, muitas vezes feitas com sua "versão colérica" e "esbravejando", tinham a esperança de que Hytalo e outros envolvidos parassem e "readequassem suas rotas". Contudo, em vez de ser ouvida, Fontenelle foi "condenada", "achincalhada" e alvo de "escolacho em rede nacional". Sua voz foi ofuscada, e ela sentiu que as pessoas faziam "o cego, o surdo e o mudo" diante de suas palavras. A apresentadora compara a persistência de suas lutas à sua própria história de vida, afirmando que "apanho desde que eu tinha 10 anos de idade, estou com 51, quando batem em mim já não dói mais". No entanto, ela enfatiza que a maldade contra aqueles que são explorados, que não têm voz ou coragem para se defender, é o que realmente a destrói.
O caso de Hytalo Santos, que incluiu fortes indícios de tráfico de pessoas, exploração sexual, trabalho infantil artístico irregular e constrangimento de crianças e adolescentes, só ganhou repercussão significativa após o youtuber Felka, com mais de 4 milhões de inscritos, citar a atuação de Hytalo em um vídeo. Essa virada é um ponto crucial para a reflexão. O juiz Antônio Budmansi Firmino de Souza da Paraíba afirmou que a prisão preventiva da dupla é necessária para impedir novos atos de destruição ou ocultação de provas e evitar a intimidação de testemunhas, situações que ocorreram desde que os investigados souberam da investigação.
A experiência de Antônia Fontenelle expõe uma dura realidade: muitas vezes, denúncias só ganham força e credibilidade quando há visibilidade ou figuras específicas envolvidas. Carmo Della Vecchia, um ator, chegou a questionar a credibilidade de Fontenelle, afirmando que "depois de Clara Castanha, Felipe Neto, Érica Hilton e outros absurdos, vai dar credibilidade como para essa aí?". Fontenelle rebateu com educação, pedindo que as pessoas aprendessem a "separar as coisas" e perdoando o comentário de Carmo.
Este episódio nos convida a uma reflexão importante sobre o quanto devemos dar atenção às vítimas e também a quem denuncia, mesmo quando não se tem todos os holofotes. A voz de Antônia Fontenelle, embora inicialmente ofuscada, agora encontra algum alívio ao ver a justiça começar a agir. É um lembrete contundente de que a verdade, por mais que demore, pode vir à tona, e que a responsabilidade de ouvir e agir recai sobre todos nós. Ignorar denúncias, especialmente aquelas que envolvem a exploração de menores, não apenas perpetua a impunidade, mas também silencia e revitimiza aqueles que buscam ajuda. A justiça, embora tardia para Antônia, representa um passo crucial para proteger os mais vulneráveis.