Artérias Limpas: Prevenção e um Teste Simples em Casa

 


Reflexões Sobre a Saúde Arterial: Um Caminho para a Prevenção e Novas Esperanças

A saúde cardiovascular é um tema de vital importância, e muitas vezes, a percepção que temos dela pode estar distante da realidade. A aterosclerose, o endurecimento e estreitamento das artérias devido ao acúmulo de placas de gordura, é uma condição silenciosa que pode começar já na infância, não sendo um problema exclusivo de idosos. A maioria das pessoas não tem ideia de como evitar ataques cardíacos ou derrames, e muitos ignoram sinais ou não sabem que suas artérias podem estar em risco.

Ameaça Silenciosa e Inesperada

A aterosclerose se desenvolve gradualmente, transformando as paredes das artérias em estruturas mais rígidas e grossas, dificultando a circulação sanguínea e permitindo o acúmulo silencioso de placas de gordura. O mais assustador é que, no início, não há sintomas. Estudos indicam que 78% dos jovens com menos de 35 anos já apresentam placas nas artérias do coração, e 20% deles chegam a ter mais de 50% de obstrução, mesmo estando no auge da saúde.

Um ponto crucial, pouco conhecido, é que nem sempre as maiores placas são as mais perigosas. Placas menores, muitas vezes com menos de 50% de obstrução, são responsáveis pela maioria dos infartos. Isso ocorre porque essas placas pequenas podem se romper devido à inflamação, estresse ou noites mal dormidas, liberando gordura, cálcio e outras substâncias inflamatórias na corrente sanguínea. As plaquetas, ao tentar estancar o que percebem como um sangramento, formam um coágulo que pode entupir completamente a artéria, interrompendo o fluxo sanguíneo e resultando em um ataque cardíaco ou derrame fulminante, mesmo em indivíduos aparentemente saudáveis.

Ferramentas de Detecção e um Teste Simples para Casa

Para detectar problemas nas artérias, existem diversos exames médicos como o Doppler de carótidas ou da aorta abdominal, o escore de cálcio (uma tomografia que quantifica o cálcio nas coronárias), a angiotomografia de coronárias ou o cateterismo, que visualizam placas e o grau de obstrução, e o Doppler arterial para avaliar o fluxo nas pernas. É importante notar que um escore de cálcio zero não exclui a presença de placas novas e moles, que são perigosas por poderem se romper.

No entanto, o vídeo apresenta um teste simples e gratuito, o Índice Tornozelo Braquial (ITB), que pode ser feito em casa com um aparelho de pressão. O ITB mede o fluxo sanguíneo para verificar a presença de placas ou endurecimento nas artérias, indicadores da doença arterial periférica, e pode prever o risco cardiovascular. O teste compara a pressão sistólica mais alta do tornozelo com a pressão sistólica mais alta dos braços, dividindo os valores.

  • Um ITB normal varia entre 1,0 e 1,4.
  • Valores abaixo de 0,9 indicam doença arterial periférica (DAP).
  • Valores acima de 1,4 podem indicar vasos endurecidos devido à calcificação. Resultados fora do intervalo 0,9-1,4 podem ser indicativos de aterosclerose avançada ou rigidez arterial que afeta coração e cérebro. O teste possui alta confiabilidade, com 95% de sensibilidade e 100% de especificidade na detecção de problemas arteriais graves nos membros, e pode ser usado para monitorar melhorias com mudanças de hábitos.

Além do Básico: Fatores de Risco Abrangentes

A crença de que um estilo de vida ativo e uma dieta equilibrada são suficientes para garantir a saúde arterial pode ser enganosa. O caso de um paciente maratonista que, apesar de ativo e com dieta equilibrada, descobriu ter artérias de uma pessoa de 73 anos aos 57, ilustra que os fatores de risco para doenças ateroscleróticas vão além de exercícios e dieta. Esses fatores incluem:

  • Pressão alta: mesmo em pessoas ativas, pode sobrecarregar as artérias.
  • Colesterol elevado: nem todo atleta tem colesterol perfeito.
  • Diabetes: pode afetar até quem tem alimentação balanceada.
  • Tabagismo: sequelas podem persistir anos após parar de fumar.
  • Estresse: envelhece as artérias.
  • Histórico familiar: a genética pode aumentar significativamente o risco, mesmo com um estilo de vida saudável.

No caso do paciente, a combinação de hipertensão, colesterol elevado, tabagismo pregresso e histórico familiar (um irmão atleta falecido por ataque cardíaco aos 50 anos) o colocava em alto risco. Somente exames aprofundados como a angiotomografia de coronárias revelaram a extensão do problema. Felizmente, com tratamento intensivo, ele conseguiu reverter 20 anos de placas em apenas um ano.

Alimentação: Aliada ou Vilã das Artérias

A alimentação desempenha um papel fundamental na saúde arterial. Os piores alimentos para as artérias são:

  1. Alimentos Ultraprocessados: ricos em conservantes, gorduras e sal (biscoitos recheados, salgadinhos, refrigerantes, miojo).
  2. Açúcar e Xarope de Milho: presentes em sucos de caixinha, molhos industrializados, barrinhas "fit", causam inflamação e aumentam a gordura abdominal.
  3. Gorduras Trans: margarinas, sorvetes, frituras e sobremesas industrializadas, elevam o colesterol ruim (LDL), baixam o bom (HDL) e causam inflamação.
  4. Gorduras Saturadas: carnes processadas (salsichas, linguiças, presunto, bacon) são ricas em sódio e conservantes, contribuindo para o endurecimento arterial e formação de placas.
  5. Carboidratos Refinados: pão branco, arroz branco, macarrão em excesso provocam picos de insulina, obesidade e inflamação.
  6. Frituras: contribuem para o acúmulo de placas e inflamação.

Para proteger e melhorar a saúde das artérias, deve-se priorizar:

  1. Leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico): ricas em fibras, controlam colesterol e glicose.
  2. Aveia: fibras solúveis (betaglucano) reduzem o colesterol LDL e a gordura abdominal.
  3. Beterraba: rica em nitratos, melhora a circulação e dilata os vasos.
  4. Verduras (rúcula, espinafre): aumentam o óxido nítrico, melhorando o fluxo sanguíneo.
  5. Sementes (chia, linhaça): ricas em fibras, antioxidantes e ômega-3, reduzem colesterol, açúcar no sangue e inflamação.
  6. Frutas: Abacate (gorduras monoinsaturadas que aumentam HDL e reduzem LDL) e Frutas Vermelhas (antocianinas que ajudam na circulação).
  7. Castanhas (amêndoas, nozes): pequena quantidade já traz benefícios cardíacos.
  8. Peixes (salmão, sardinha): ricos em ômega-3, reduzem triglicerídeos e aumentam colesterol bom.
  9. Azeite de Oliva Extra Virgem: benéfico para a saúde cardiovascular.
  10. Chocolate Amargo (acima de 70%): flavonoides relaxam as artérias, melhoram o fluxo e reduzem a pressão arterial.

Uma Descoberta Científica que Pode Revolucionar o Futuro

A medicina pode estar à beira de uma revolução no tratamento de artérias entupidas. Uma pesquisa recente, já testada com sucesso em animais, utiliza nanopartículas menores que um fio de cabelo para reativar a "eferocitose", um processo natural do corpo que limpa células acumuladas nas artérias e formadoras de placas. Essas partículas conseguem remover até as placas mais perigosas, agindo como um "detergente" interno para as artérias.

Os testes em animais mostraram resultados promissores, e os pesquisadores preparam-se para testes em humanos. O mais surpreendente é que, até o momento, não foram detectados efeitos colaterais graves, indicando que as nanopartículas são extremamente precisas e seguras, focando apenas nas células a serem removidas sem danificar as saudáveis. Embora a pesquisa esteja nos primeiros passos, ela oferece uma enorme esperança para um futuro onde a limpeza das artérias seria rápida e eficaz, sem cirurgias, stents ou medicamentos contínuos.

Conclusão

Proteger as artérias é um compromisso contínuo que exige conscientização e ação. Desde a compreensão da aterosclerose como uma ameaça silenciosa que pode afetar qualquer idade, até a adoção de uma alimentação consciente e o monitoramento da saúde, cada passo é fundamental. Ferramentas como o teste ITB permitem uma avaliação inicial em casa, enquanto a busca por exames médicos mais aprofundados e a atenção a todos os fatores de risco (não apenas dieta e exercício) são essenciais. A jornada exige esforço e mudanças de hábitos, mas os benefícios para o coração e a longevidade são inestimáveis. E, com as promissoras descobertas científicas, o futuro da saúde arterial pode ser ainda mais esperançoso.

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