Achismos Podcast: Desafios, Abusos e Dinheiro na Vida de uma Profissional do Sexo
O episódio #371 do podcast "Achismos" trouxe um debate multifacetado e sensível sobre a vida e a profissão de uma trabalhadora do sexo, contando com a participação de Sara Miller, jornalista, atriz e profissional do sexo, e Ana Cláudia Zanin, psicóloga e terapeuta. A conversa explorou desde a terminologia adequada até os desafios emocionais, o planejamento financeiro e as dinâmicas de relacionamento com os clientes.
A Questão da Terminologia e o Início da Carreira
Logo no início do debate, foi destacada a importância da terminologia correta. O termo preferido é "profissional do sexo", pois expressões como "garota de programa" ou "pr**tuta" são consideradas ofensivas ou imprecisas, já que nem sempre envolvem um "programa" ou se aplicam a uma "garota" em termos de idade.
Sara Miller, que está na profissão desde 2015, revelou que sua motivação inicial foi financeira, mas que também encontrou uma oportunidade para satisfazer sua alta libido e ter experiências sexuais que não tinha com o namorado na época. Ela consegue conciliar o útil ao agradável.
Carreira, Planejamento e Ética Profissional
Sara é apresentada como uma profissional diferenciada, com alta consciência e foco em planejamento. Ela limita seus atendimentos a, no máximo, dois por dia (embora no início tenha chegado a fazer de três a quatro) para garantir a qualidade do serviço e evitar desgaste. Seu planejamento para "aposentadoria" não está ligado à idade, mas sim a conquistas financeiras, como a compra de imóveis e investimentos. Ela já conseguiu comprar seu próprio apartamento e o de sua mãe, iniciando a carreira com visão de futuro desde 2015. Ela também possui formação em jornalismo e teatro e planeja engrenar na carreira de atriz ou escritora.
Em termos de ética, Sara enfatiza a descrição. Para ela, é um valor fundamental jamais entrar em contato com a esposa de um cliente ou prejudicar o casamento dele, mesmo em situações de envolvimento emocional.
O Vazio e a Busca por Conexão
Apesar do sucesso e do planejamento, Sara admite o desejo por ter um relacionamento estável. Ela gostaria de ter alguém que "lidasse bem com isso para eu ter as duas coisas". No entanto, a dificuldade de encontrar parceiros que aceitem a profissão é a principal parte ruim do seu trabalho.
A psicóloga Ana Cláudia Zanin corrobora que a perspectiva de formar família é a maior queixa que ela observa entre as profissionais do sexo. Inconscientemente, muitas mulheres carregam essa ilusão de família, e a fisiologia feminina, especialmente com picos hormonais por volta dos 32 anos, pode intensificar o desejo de maternidade, mesmo que a mulher decida não ter filhos.
A Ilusão e o Cliente Apaixonado
Sara se apaixonou por clientes em duas ocasiões, ambas com homens casados, o que resultou em experiências negativas. Ela explica que o homem casado frequentemente cria uma "atmosfera de ilusão", usando a crise conjugal ("meu casamento tá muito ruim") como um gancho, facilitando o envolvimento emocional da profissional.
Segundo a análise, no jogo de ilusões, a profissional acaba sendo a mais iludida, pois cai na fantasia de que o cliente pode se separar. Ana Cláudia explica que esses homens tentam seduzir e criar a ilusão de que algo a mais pode acontecer.
Os clientes que mais se apaixonam por Sara, no entanto, são os solteiros. Frequentemente, são homens que não têm muita habilidade com mulheres na vida pessoal (podendo ter baixa autoestima ou serem tímidos) e que veem Sara como uma parceira real. Sara se destaca por sua capacidade de criar uma atmosfera orgânica, fazendo com que o cliente sinta que ela realmente gosta dele, o que é um de seus diferenciais.
O tipo de cliente que mais aparece, no entanto, é o casado. Muitas vezes, eles buscam carência e atenção (linguagem do amor) ou a renovação sexual que falta no casamento, e não apenas o sexo em si.
A Terapia Oculta e a Fisiologia Masculina
O debate levantou a tese de que muitos homens procuram a profissional do sexo como uma forma de "terapia" não declarada, passando a hora de atendimento desabafando sobre problemas conjugais, familiares ou de baixa autoestima.
Ana Cláudia Zanin introduz um ponto de vista fisiológico sobre a demanda masculina, argumentando que o homem possui maior necessidade sexual que a mulher (que ovula em média uma vez por mês). Ela sugere que, embora a sociedade configure o formato de casal e fidelidade, o comportamento sexual masculino é fortemente influenciado pela biologia, o que pode explicar a busca por outras parceiras.
Consequências do Excesso e o Trauma
O excesso de atividade sexual pode levar a um condicionamento (vício), já que o sexo libera enzimas de prazer, reforçando positivamente o comportamento. Ana Cláudia alerta que, ao se aposentar e diminuir a frequência sexual, a profissional pode enfrentar dificuldades emocionais.
A conversa também abordou a relação entre trauma na infância e a entrada no mercado sexual, embora com especificidades. Sara compartilhou uma experiência pessoal: ela teve vaginismo aos 20 anos, o que a levou a descobrir um abuso sofrido na infância. Ela reflete que a sexualidade precoce e a busca por prazer que não encontrava no relacionamento podem ter a conduzido a buscar a oportunidade de ter experiências satisfatórias com outras pessoas.
A solução para a profissional que se sente presa ou julgada é a consciência da escolha, ou seja, entender que ela pode mudar sua vida a qualquer momento.
Observação: O episódio termina com uma sugestão de novo empreendimento, "As Terapeutas", combinando a experiência da psicóloga e da profissional do sexo para atender às complexas necessidades dos clientes.