Debate Aceso: Conteúdo Adulto, Prostituição e Moralismo na Era Digital

 


Debate Aceso: Conteúdo Adulto, Prostituição e Moralismo na Era Digital

O vídeo em questão registra um intenso debate protagonizado por Martina Oliveira, criadora de conteúdo adulto e embaixadora da Close Fans, contra um painel de aproximadamente 30 críticos, descritos como "moralistas", "conservadores" e detentores de princípios e valores tradicionais, incluindo teólogos, pastores e educadores. A discussão girou em torno de cinco afirmações centrais, abordando desde a moralidade e a legalidade da criação de conteúdo adulto até o impacto social do vício em pornografia.

1. Venda de Conteúdo Adulto: Prostituição e Problemas Sociais

A primeira afirmação colocada em debate foi: "Se vender conteúdo adulto é prostituição e, se sim, qual o problema?".

A Perspectiva da Prostituição

Um dos debatedores forneceu uma definição de prostituição que não se limita necessariamente ao ato sexual, mas a qualquer tipo de troca de valor erótico. Desse ponto de vista, a produção de conteúdo adulto online é equiparada à prostituição, da mesma forma que uma aula online continua sendo uma aula, mesmo sendo virtual. Argumenta-se que, enquanto um escritor de um conto erótico não é um prostituto porque o produto é a obra, não o próprio corpo, a criadora de conteúdo adulto utiliza o próprio corpo como ferramenta do processo, configurando a prostituição.

A criadora de conteúdo, no entanto, discorda do termo, embora reconheça que muitas a veem como "prostitutas". Ela insiste que não é tratada como "um pedaço de carne no açougue" e é muito respeitada por seus assinantes.

O Problema Individual e Social

Os críticos apontam que a prostituição digital acarreta problemas em duas instâncias:

  1. Individual: Relacionada ao vício, ao controle fácil de dopamina e a um efeito escalonado da pornografia.
  2. Social: Gera a hipersexualização de mulheres, levando à parafilia onde homens começam a sexualizar mulheres comuns do dia a dia, como colegas de trabalho. A existência de plataformas como OnlyFans e Close Fans aprofunda esse problema já existente, dando-lhe uma nova proporção e uma escala muito maior.

Martina retruca que foi sexualizada desde os 14 anos, muito antes da existência dessas plataformas, e que o problema da sexualização é um olhar masculino que sempre existiu, não sendo culpa do OnlyFans. Contudo, uma debatedora argumenta que o fato de ela ter sofrido essa hipersexualização na juventude torna o seu trabalho mais grave, pois ela se torna parte do mercado que gera ainda mais sexualização.

2. Consumo Recreativo de Pornografia e Vício

A segunda afirmação questionava: "O consumo recreativo de pornografia independente não está necessariamente ligado ao vício".

Martina defende que existe consumo saudável (ou seja, não necessariamente ligado ao vício), como assistir pornografia ocasionalmente, para se aliviar, para melhorar a vida sexual do casal ou para descobrir fetiches. Ela admite que o excesso e o consumo diário são um vício. Ela comparou a pornografia a vícios em outras mídias sociais, como o TikTok ou jogos como LOL, que também são "bombas de dopamina" e levam as pessoas a perder o convívio social.

Em contraste, os oponentes afirmam categoricamente que não existe consumo saudável de pornografia. Argumentam que o consumo vicia, sendo cientificamente comparável à cocaína, pois o sistema de recompensa cerebral é o mesmo. Vício é definido como a dependência que prejudica a vida de quem está comprometido com ele, e mais da metade dos homens já teve problemas de vício em pornografia em algum momento da vida.

A premissa do consumo saudável é criticada por ser contraditória, pois o que começa como consumo saudável (ocasional) é geralmente o início do vício. Um dos debatedores alerta que a criadora, ao produzir o conteúdo, está alimentando o vício de milhões de consumidores.

3. Criadoras de Conteúdo Adulto como Empreendedoras e Influenciadoras

Martina sustenta que criadoras de conteúdo adulto são empreendedoras e influenciadoras digitais. Ela justifica o empreendedorismo alegando que possui CNPJ, paga muito imposto, mantém uma empresa (audiovisual), e tem equipe jurídica.

A Crítica ao Empreendedorismo

Os críticos argumentam que o empreendedorismo, no senso comum, deve ter um caráter funcional ou de benefício para a sociedade, o que o conteúdo adulto não oferece. A comparação é feita com o traficante, que também faz muito dinheiro, mas cujo produto não é um bem social. Martina rebate que o tráfico é crime e mata, o que não se aplica ao seu trabalho.

O Significado de Influência

Em relação à influência, Martina define "influenciador" de forma literal, como a pessoa que influencia, independente se é para o bem ou para o mal. Os críticos, contudo, enfatizam que a influência dela é negativa, contribuindo para a decadência social, o aumento da hipersexualização, a queda na taxa de matrimônio e o aumento da taxa de divórcio. Um debatedor expressou a preocupação de que ela possa estar influenciando meninas que vivem em condições de pobreza a entrar no OnlyFans sem sucesso, resultando em exposição social e vidas "acabadas".

4. A Analogia do Dono do Bar

A quarta pauta propôs a comparação: "Se o dono do bar não é culpado pelo vício do alcóolatra, porque a criadora de conteúdo seria pelo vício em pornografia?". Martina concorda que o vício em alcoolismo e em pornografia são errados, mas insiste que não é culpada pelo vício do consumidor, assim como o dono do bar não é culpado.

Os debatedores contestam veementemente a analogia, alegando que ela é injusta:

  • Escala e Tecnologia: O dono do bar não tem o poder de um algoritmo para "esfregar a bebida na cara do alcólatra". Criadores de conteúdo usam tráfego pago e a plataforma lucra com a entrega de conteúdo, enquanto propagandas de bebida são restritas no Brasil.
  • Regulamentação: Álcool e cigarro têm avisos claros sobre as consequências em seus rótulos, o que não ocorre com o conteúdo adulto.
  • A Indústria: Para uma comparação justa, a criadora de conteúdo deveria ser comparada à indústria do álcool (não ao dono do bar), que também corrobora para destruir vidas e famílias. Os críticos veem Martina como a fornecedora do produto/traficante, e não a plataforma (o bar).

5. Falso Moralismo e Condenação

A pauta final afirmava que quem mais consome conteúdo adulto é quem mais o condena. Martina concorda com essa descrição da realidade, identificando-a como hipocrisia ou "falso moralismo". Ela cita que seus períodos de maior faturamento e público ocorreram justamente quando se envolveu em controvérsias com pessoas moralistas, e que estudos mostram maior acesso à pornografia em estados mais conservadores.

Os críticos oferecem interpretações alternativas para essa condenação:

  • Pedido de Socorro: A condenação não é hipocrisia, mas um "pedido de socorro" de pessoas que vivenciaram a dor e o prejuízo do vício em pornografia e sabem o quanto ele é nocivo para a família e as relações pessoais.
  • Moralidade Interna: Pessoas escondem o acesso à pornografia e a criticam porque, em sua moralidade, sabem que aquilo é errado e gera vergonha.

Martina, ao final do debate, revela que não incentivaria seus futuros filhos a seguir sua carreira, concordando com a premissa de que não é o "melhor caminho", mas mantendo que a escolha final deve ser deles, desde que não seja crime. Ela acredita que se a criança for educada desde cedo a entender que seu trabalho é honesto, não haverá problema, embora os críticos alertem sobre a possibilidade de a criança sofrer violência psicológica devido à exposição.

A discussão ressalta a complexidade da moralidade na era digital, onde a linha entre liberdade individual (como a escolha profissional de Martina) e o impacto estrutural na sociedade (como a hipersexualização e o vício) é constantemente desafiada.