Debate: Antifeminismo Contra Feminismo.

 

Debate Polarizado: Antifeminismo versus Feminismo em Pauta

Um debate acalorado e instrutivo ocorreu no podcast Inteligência Ltda., reunindo a deputada estadual e escritora antifeminista Ana Campagnolo e a atriz e diretora Rachel Ripani, defensora do feminismo conciliatório. O encontro, mediado por Rogério Vilela, abordou temas centrais da pauta de gênero, como a violência contra a mulher, a autonomia corporal, as alegadas desigualdades institucionais e o mercado de trabalho.

Definições e Disputa de Termos: Igualdade vs. Equidade

Um dos primeiros pontos de atrito foi a definição do feminismo. Rachel Ripani argumentou que o movimento feminista luta pela equidade, e não necessariamente pela igualdade literal. Segundo ela, equidade significa tentar corrigir discrepâncias e dar a cada um a medida do que necessita, dada a histórica desvantagem das mulheres em muitos espaços.

Ana Campagnolo, por sua vez, desafiou essa definição, afirmando que o feminismo geralmente usa a palavra "igualdade" e que, na prática, o movimento adota práticas desiguais em favor das mulheres, configurando uma supremacia feminina ou femismo. Campagnolo, que se define como antifeminista, defende a igualdade ontológica e jurídica, mas atribui essa conquista ao cristianismo e ao liberalismo, e não ao feminismo.

Práticas Institucionais e o Embate sobre os Direitos dos Homens

Campagnolo apresentou diversos exemplos que, segundo ela, demonstram a incoerência do discurso feminista de igualdade. Ela citou a tentativa de criação de uma Comissão do Homem Advogado na OAB, que foi violentamente criticada, apesar de já existir a Comissão da Mulher Advogada. Da mesma forma, mencionou a existência de núcleos e coordenadorias para mulheres no Judiciário e Legislativo (como o MP pró-mulher ou procuradorias da mulher), sem movimentos semelhantes em favor dos homens.

A deputada também apontou programas de inclusão de mulheres em áreas de ciências exatas onde elas são minoria, mas a ausência de programas para incluir homens em áreas onde eles são minoria, como psicologia ou pedagogia. Além disso, citou o caso da Defensoria Pública do Distrito Federal, que foi obrigada a retirar um evento chamado "Homens Extraordinários" após críticas, mesmo promovendo o evento "Mulheres Inspiradoras".

Em resposta, Rachel Ripani concordou que mais grupos de acolhimento e reflexão para homens seriam positivos, mas defendeu que as iniciativas pró-mulheres são necessárias porque elas ainda ocupam poucos espaços. Ela sugeriu que a reação negativa a iniciativas como o "Homens Extraordinários" advém do aumento de movimentos masculinistas que promovem o ódio contra mulheres. Campagnolo, no entanto, reforçou que o movimento feminista busca ativamente impedir que os homens lutem pelos seus direitos, citando a oposição oficial de órgãos como o Tribunal de Justiça e o Ministério Público de Santa Catarina à criação de uma Procuradoria do Homem.

A Questão da Violência e a Pena do Estuprador

Ambas as debatedoras concordaram que a violência contra a mulher é inaceitável e deve ser punida. Contudo, discordaram profundamente sobre a eficácia e os efeitos práticos das leis impulsionadas pelo feminismo.

Campagnolo afirmou que, na prática, decisões fomentadas pelo feminismo resultam em impunidade para criminosos. Ela citou a Lei 12.015/2009, que unificou os crimes de atentado violento ao pudor e estupro. Segundo ela, essa lei, proposta por uma deputada feminista, diminuiu a pena máxima que um estuprador poderia pegar (de cerca de 22 para 12 anos), permitindo que criminosos que já estavam presos fossem soltos.

Rachel Ripani discordou veementemente da ideia de que feministas defendam penas menores, citando a luta contra a prescrição e a favor do aumento da pena para crimes sexuais. Ela defendeu que a unificação dos crimes simplificou a legislação e possibilitou condenações mais justas, já que antes as vítimas poderiam ter dificuldade em comprovar a diferença entre os atos.

Campagnolo também destacou o problema da misandria online (ódio contra homens), citando casos como a publicação de Manuela D’Ávila sobre o livro "O homem precisa acabar" e declarações de celebridades. Ripani reconheceu o ódio online como um problema geral, mas argumentou que a misandria é uma reação à misoginia e que não se compara à violência concreta que as mulheres sofrem (como o aumento de feminicídio).

O Ponto de Maior Divergência: Aborto e Autonomia Corporal

O tema do aborto gerou o maior atrito. Rachel Ripani defendeu o direito da mulher à autonomia sobre o seu corpo e o direito legal de interromper a gestação em casos previstos, como o estupro. Ela criticou a dificuldade de acesso ao aborto legal no Brasil e o aumento da mortalidade de gestantes onde o aborto é proibido.

Campagnolo criticou o movimento feminista por, supostamente, valorizar a morte do feto acima do bem-estar da mulher e da criança. Ela citou o caso de Santa Catarina, onde uma menina vítima de estupro fez um aborto tardio. Campagnolo alegou que as feministas insistiram na sistolia fetal (morte do bebê por injeção de cloreto de potássio — método proibido para animais) e no parto induzido, que causou 24 horas de sofrimento à menina, mesmo sendo possível realizar uma cesariana mais segura, retirando o bebê vivo para adoção.

Rachel Ripani refutou que as feministas queiram o sofrimento da mulher e reiterou que a menina, sendo menor, queria o aborto legal. Ela defendeu que a mulher tem o direito de escolher o planejamento familiar e não ser coagida a seguir com uma gestação indesejada. Campagnolo, no entanto, concluiu que a prioridade das feministas em casos de aborto tardio é que o bebê seja morto, mesmo que isso cause mais sofrimento à mulher, chamando o feto de "a futura vítima" e associando a linguagem desumanizadora do aborto a táticas nazistas e escravocratas.

Mercado de Trabalho e o Paradoxo Sexual

Ao abordar a desigualdade salarial, Rachel Ripani argumentou que a diferença global de salários (mulheres ganhando em média 80 centavos para cada R$ 1 ganho por homens) é fruto do machismo estrutural, da pena da maternidade (quando mulheres pausam a carreira para cuidar dos filhos) e do teto de vidro (dificuldade de acesso a cargos de poder). Ela considerou que essa desigualdade é inerente ao capitalismo.

Ana Campagnolo, por sua vez, questionou se não seria hora de o feminismo reconhecer outras causas além do machismo. Ela citou a economista Susan Pinker, autora do livro Paradoxo Sexual, que explica que as mulheres, apesar de terem melhor desempenho acadêmico e mais diplomas universitários, fazem escolhas que priorizam outras coisas, como qualidade de vida e mais tempo em casa e com os filhos, o que se reflete em salários menores. Campagnolo concluiu que a desigualdade salarial é, em parte, fruto da liberdade que o capitalismo proporciona e da prioridade que muitas mulheres dão ao cuidado familiar.

Conclusão: Diálogo e a Busca por Consenso

Apesar das profundas divergências, especialmente sobre o aborto, as debatedoras concordaram sobre a importância do diálogo e do respeito. Rachel Ripani defendeu o feminismo conciliatório, que busca pontos em comum e aliança entre homens e mulheres para a construção de uma sociedade mais justa e segura. Ela alertou contra a polarização digital, que transforma o debate em "guerra dos sexos" e impede o consenso.

Ana Campagnolo finalizou reiterando a incoerência do movimento feminista entre teoria e prática, citando a defesa de pautas que prejudicam a mulher (como a redução de pena de estupradores) ou o ódio institucionalizado contra homens. Ela fez um apelo para que as mulheres busquem a dignidade e o apoio no cristianismo, citando exemplos do tratamento favorável de Jesus às mulheres.

Ambas expressaram satisfação em ter um espaço para debater, mesmo que com antagonismos, e concordaram que, na vida real, o respeito e a humanidade prevalecem sobre o ódio digital.

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