Livre Arbítrio, Amor e a Queda: Reflexões sobre a Criação de Lúcifer
O vídeo aborda questões fundamentais da teologia e da filosofia, centradas no paradoxo da onisciência divina e da origem do mal: Se Deus sabia que Lúcifer se tornaria Satanás, por que Ele o criou?. A resposta oferecida repousa essencialmente sobre o conceito de livre arbítrio, que é apresentado não apenas como uma liberdade de escolha, mas como o pressuposto lógico de um amor genuíno e da maturidade ética.
O Livre Arbítrio como Pressuposto Lógico do Amor
A grande resposta para a criação de Lúcifer reside no fato de que Deus, se apenas criasse aquilo que agiria da forma que Ele gostaria, estaria forçando a ação e anulando a liberdade. Se assim fosse, os seres criados seriam meros robôs.
O livre arbítrio é crucial porque é o "pressuposto lógico do máximo ético possível, que é o amor". Deus é constitucionalmente amor, e o amor não é apenas uma descrição de um exercício Dele, mas sim uma descrição de quem Ele é. O amor genuíno pressupõe necessariamente a possibilidade de não amar.
Deus nem força a pessoa a agir da forma que Ele gostaria, nem só cria a pessoa que Ele já sabe de antemão que agiria da forma que Ele quer que ela aja, agindo assim por respeito ao livre arbítrio. Os anjos e os seres humanos foram criados com livre arbítrio para que pudessem decidir.
A Distinção entre Potencialidade e Ato
A existência do mal é um elemento complexo. De acordo com a visão apresentada, Deus criou a possibilidade do mal, mas não o ato do mal. O livro de Isaías 45:7 é citado para afirmar que Deus criou o mal, mas isso é interpretado como a criação da possibilidade do mal.
A possibilidade do mal é um pressuposto lógico da possibilidade do máximo ético possível, que é a escolha do bem diante da realidade do livre arbítrio. Se não houvesse a possibilidade do erro ou do mal, a ética seria robótica, e não haveria maturidade moral em acertar ou em escolher fazer o bem. A existência da árvore da desobediência no Jardim do Éden servia como esse elemento de possibilidade.
O ato do mal, por sua vez, iniciou-se por um ato de rebelião de um anjo (Lúcifer) e, subsequentemente, pela desobediência da humanidade. Essa efetivação é a passagem do que estava no "mundo das potências" para o "mundo do ato", utilizando a distinção aristotélica.
O Impacto do Livre Arbítrio e a Busca por Respostas
O livre arbítrio implica que todas as nossas ações têm consequências que ecoam pelas gerações. As decisões da humanidade afetam o mundo e as outras pessoas, e por isso, sofremos as consequências das decisões de terceiros, como em casos de violência ou abuso.
Diante do sofrimento, o ateísmo frequentemente questiona: "se Deus é bom e todo-poderoso, por que o mal existe?". No entanto, o texto argumenta, baseando-se em C.S. Lewis (em Cristianismo Puro e Simples), que a própria percepção de injustiça ou maldade pressupõe a existência de um justo absoluto e de um bem absoluto. A sensação de que o mundo é injusto prova a existência de uma régua moral objetiva, a partir da qual se pode diferenciar o bem do mal. Se há uma lei moral objetiva, deve haver um legislador moral objetivo, que é Deus.
No cristianismo, as perguntas devem ser feitas, pois esta é uma cosmovisão baseada na verdade, oferecendo respostas para quaisquer perguntas.
A Queda da Humanidade e a Solução Divina
A humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27), mas também foi feita do pó, dependendo, portanto, de Deus. O maior erro da humanidade foi trazer para si a ideia de ser a fonte da moralidade ao comer do fruto do conhecimento do bem e do mal. A partir desse ponto, o homem passou a achar que o que é certo, errado ou justo depende dos seus próprios desejos e vontades.
A ordem dada a Adão antes da criação de Eva era para "cultivar e guardar o jardim". O termo hebraico para "guardar" significa vigiar, o que implicava a vigilância do inimigo de nossas almas (que já havia caído).
Apesar da queda, Deus não fica apenas "assistindo a humanidade se ferrar". Ele está constantemente agindo, consolando, confortando, curando feridas da alma e do corpo, e operando milagres. Embora o domínio deste mundo tenha sido dado ao homem, e não se acredite que Deus esteja no controle de tudo (como estupro ou assassinato), Deus respeita a liberdade, pois só nela se obtém o amor.
Deus, contudo, anunciará o fim desde o princípio (Isaías 46:10), e Ele dará uma solução para o mal. Haverá um momento em que todo mal será julgado. A misericórdia de Deus avisa do julgamento e oferece a saída. A salvação é alcançada por aqueles que estão em Cristo, sendo salvos da destruição decorrente do julgamento que Deus fará da maldade do mundo.
A salvação é incondicional ao esforço humano: "O lugar do céu não é pelo que nós fazemos, mas é pelo que Jesus fez". Não há nada de tão bom que se tenha feito para garantir o lugar no céu, nem algo tão mal que tenha deixado a pessoa fora do alcance de Deus. O destino final é uma escolha: passar a eternidade onde Deus estará, ou onde Deus não estará.